O 08 de março, Dia Internacional de luta das mulheres, abriu o calendário de manifestações de massa contra as reformas e a retirada de direitos propostas pelo governo de Jair Bolsonaro. Na última sexta-feira, milhares de mulheres saíram às ruas contra a reforma da previdência (PEC 06/2019), projeto que penaliza ainda mais as mulheres, em especial as trabalhadoras rurais, as mulheres negras e pobres.
Em São Paulo (SP), o lema “Mulheres contra Bolsonaro! Vivas por Marielle, em Defesa da Previdência, por Democracia e Direitos” reuniu mais de 80 mil pessoas na Avenida Paulista, segundo a organização do evento. No Rio de Janeiro (RJ), o ato reuniu mais de 30 mil mulheres. Sob o comando de mais de 200 batuques feministas, compostas pelos movimentos sociais e pelos blocos de carnaval, as mulheres fizeram uma potente intervenção política e musical. As mulheres também organizaram manifestações em outras partes do estado, como Campinas e o ABC paulista.
Em Porto Alegre, o dia foi lotado de atividades concentradas no Largo Glênio Peres: feira agroecológica e de economia solidária, painéis de debate sobre temas como o feminicídio, a violência contra as mulheres, o direito ao aborto e a Reforma da Previdência. Às 19h, saíram em ato desde a Esquina Democrática, com presença de 10 mil pessoas. As falas políticas se intercalaram com apresentações culturais de mulheres do slam, hip hop, samba, e blocos de carnaval. Outras cidades do estado organizaram atos, como Santana do Livramento, Bagé e Rio Grande.
Em Recife (PE), 20 mil manifestantes tomaram às ruas da capital pernambucana por “Marielles: livres do machismo, do racismo e pela Previdência pública”. A manifestação saiu da Praça do Derby e foi até a ocupação Marielle Franco, na Praça da Independência. Em Garanhuns, a mobilização foi precedida de atividades culturais e feiras na praça, que garantiram o diálogo com a população.
Em Mossoró (RN), cerca de mil mulheres do campo e da cidade se concentram no prédio da previdência, onde distribuíram laranjas para as/os trabalhadoras/es fazendo referência à corrupção de Bolsonaro e seguiram em marcha contra a cruel reforma que ameaça a classe trabalhadora e prejudica definitivamente a vida das mulheres. Para Glysia Plúvia, o ato do 8 de março em Mossoró foi um pontapé muito representativo para as lutas deste ano. “Em unidade com sindicatos e outros movimentos sociais, caminharemos mais fortes na construção de uma agenda de lutas por direitos e democracia”, afirmou.
Já em Aracaju (SE), o ato unificado evidenciou a precariedade do trabalho feminino. O ato saiu de um importante call center da capital sergipana e marchou até o prédio do INSS.”Estamos de mãos dadas mesmo diante das divergências. Em nossas pautas, primamos, sobretudo, pelos direitos trabalhistas e previdenciários e pelo fim da violência machista e pelo fim do racismo”, afirmou Lilian Farias, da MMM, de Aracaju.
Em Belém (PA), ao final da manifestação ocorreu a ocupação do prédio do INSS, como forma de chamar atenção para a defesa da previdência pública. A reforma da previdência e contra a retirada de direito foi mote de atos em cidades como Natal e Parelhas (Rio Grande do Norte), João Pessoa (Paraíba) e Curitiba (Paraná).
MARIELLE VIVE
A figura da vereadora carioca Marielle Franco, assassinada há um ano por motivações políticas, foi lembrada em diversos atos do país como um símbolo de resistência, liberdade e democracia. As manifestações denunciaram ainda o avanço da onda conservadora, os ataques à democracia e a escalada da violência contra às mulheres.
Em Fortaleza, além da vereadora, o ato unificado fez menção à outras vítimas de feminicídio e de transfeminicídio. Quatro mil mulheres marcharam da Praça da Justiça, no Centro de Fortaleza, rumo a Praça da Gentilândia, no Benfica, sob o mote “Pela vida das mulheres! Somos todas Marielle, Stefhanie, Ingrid e Dandara”. O tema da violência também foi central nos atos de Parintins e Manaus, no Amazonas.
Em Florianópolis, além da manifestação de rua, o “8Marielle: vivas, livres e resistentes”, que ocorreu em frente ao Terminal Rodoviário, fez uma intensa programação cultural com rodas de debates, oficinas e intervenções sobre o racismo institucional, violência contra a mulher e a questão do aborto.
O ex-presidente Lula, preso político há quase um ano, também foi evidenciado durante os protestos. Em muitas cidades, as mulheres carregaram faixas de “Marielle vive, Lula Livre”, em uma referência clara aos ataques à democracia brasileira. No Distrito Federal (DF), esse foi o principal grito ecoado durante a marcha que saiu da rodoviária do Plano Piloto e terminou na Praça dos Prazeres. Em Salvador, Bahia, os temas também estiveram muito presentes nas músicas e faixas, junto à denúncia da reforma da previdência.
CONTRA O NEOLIBERALISMO, PELA SOBERANIA DOS POVOS E AUTONOMIA DAS MULHERES
Em Belo Horizonte (MG), estado marcado pelos crimes da Mineração, 80 mil mulheres marcharam sob o lema “Mulheres em luta: o lucro não Vale a Vida”. O ato contou com a fala das mulheres moradoras de Brumadinho, cidade devastada pelo rompimento da barragem da mineradora Vale, em janeiro. As cidades mineiras de Poços de Caldas, Juiz de Fora e Simonesia também marcharam por justiça, liberdade e direitos.
Em Dourados (MS), mais de 500 mulheres foram às ruas do município, reivindicando diversas pautas. “Diante da infinidade de pautas que atinge as mulheres como os ataques aos direitos, tentativa de destruição da previdência, aumento da violência, liberação dos venenos nos nossos alimentos, tivemos dificuldades de definir um tema para este ano e portanto levamos todas as pautas para as ruas. Por isso, o tema central foi ‘Nossa voz estilhaça a máscara do silêncio.’”, pontuou Gleici Jane, da Marcha Mundial das Mulheres.
Em São Paulo, as mulheres lembraram ainda o avanço imperialista dos Estados Unidos sobre a Venezuela, que quer retirar a autonomia do país. O alerta dizia: América Latina resiste. Fora Trump e Bolsonaro da Venezuela!
DIA DE LUTAS
Sônia Coelho, da coordenação nacional da Marcha Mundial das Mulheres, avalia de forma muito positiva as manifestações que ocorreram por todo Brasil. “O sentido desse 8 de março foi mostrar que as mulheres continuam em resistência contra Bolsonaro, contra o conservadorismo e fundamentalmente contra a reforma da previdência que vai penalizar mais as mulheres pobres, as mulheres negras. Nesse sentido, as manifestações cumpriram seu objetivo, trazendo inclusive de volta, as pessoas que estiveram presentes no #EleNÃO”, avaliou.
Para Sônia, as manifestações fortaleceram ainda mais o feminismo. “A gente viu pelo tanto de mulheres na rua pelo Brasil afora como o feminismo continua se apresentando como instrumento fundamental na luta de classes . Nesse sentido, o 08 de março proporcionou o fortalecimento do feminismo, o fortalecimento da resistência das mulheres e o fortalecimento da nossa resistência anticapitalista. Foi muito importante, por exemplo, a gente trazer esse lado internacionalista e colocar o tema da Venezuela como uma questão importante para nós mulheres, para a soberania popular, soberania da Venezuela e da América Latina”, afirmou a dirigente da Marcha.
Ainda em março, já estão marcados dias de lutas importantes: 14/03, dia em que o assassinato de Marielle completa um ano, e 22/03, dia nacional de luta contra a reforma da previdência.