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Agenda política feminista das Américas: fortalecer caminhos, estratégias e resistências das lutas da região

Por GT de Comunicadoras do Encontro Regional MMM Américas

 

WhatsApp Image 2021-09-11 at 17.19.18O segundo dia do Encontro Regional da Marcha Mundial das Mulheres das Américas começou com uma mística preparada pelas companheiras chilenas que recordou parte da jornada das mulheres da MMM nas Américas. Em silêncio recordamos a história que nos acompanha pelo caminho revolucionário deixado por Salvador Allende. Os debates da manhã se concentraram em como fortalecer nosso movimento com base no reconhecimento de nossos pontos fortes e desafios.

Dentre eles, nos apropriar de agendas e visões políticas entre os movimentos participantes e, ao mesmo tempo, ampliar o diálogo com todos os movimentos emancipatórios, foi uma das propostas mais enfatizadas pelas militantes, ressaltando a interrelação entre as múltiplas opressões como o racismo e a polarização entre as realidades urbanas e rurais.

As mulheres também destacaram a importância de identificar eixos temáticos que possam nos ajudar a nos articular e conectar com campos de ação internacionais, tendo em mente que isto pode nos permitir assumir agendas comuns e tornar a MMM mais visível, pois é importante pensar as regiões a partir das conexões de nossas lutas, e não apenas em termos geográficos.

Também é preciso analisar como os recursos também determinam nossos movimentos, e a ausência de recursos torna as organizações de base invisibilizadas, enquanto as organizações com mais recursos têm o papel principal, e o fortalecimento de uma identidade regional é uma prioridade nossa.

Por outro lado, foi analisado que a experiência acumulada em termos de compromisso político, a compreensão de nossa visão feminista apoiada por nossas semelhanças, ancorada no trabalho de base, nos dá um grande impulso; que devemos continuar a luta comum contra a impunidade das transnacionais, a denúncia do totalitarismo do neoliberalismo para submeter nossas populações à sua reprodução ligada ao papel do fundamentalismo religioso.

Construir pontes e alianças com as diversas comunidades de gênero, revelando e denunciando toda discriminação e permitindo enfrentar o capitalismo foi uma das propostas do encontro para o fortalecimento da MMM; da mesma forma, foi proposto o diálogo com feministas das províncias, do campo, da cidade, trans, indígenas, coletivos e energizar o trabalho baseado na compreensão e articulação das diversidades.

Outro desafio é manter a formação como prioridade com apoio tecnológico, o que nos permite dialogar e reunir jovens, prestando atenção às realidades e especificidades de cada região e território, reconhecendo suas contribuições e tradições. Neste processo, é importante ir mais fundo na segurança digital para o cuidado das mulheres. Defender as experiências das Escolas, particularmente a da Escola Internacional Feminista Berta Cáceres, como processos de formação política a partir da educação popular feminista com o uso de ferramentas para o desenvolvimento político da Marcha e promover a inclusão do Caribe neste processo.

Houve também a questão da comunicação com uma dinâmica regional que permite a divulgação de notícias de nossas lutas na região e nos territórios contra a violência, corporações transnacionais, megaprojetos, discriminação e militarização, com apoio internacional para combater a desinformação e a manipulação das grandes hegemonias comunicacionais. Capire é uma nova alternativa para isso, mas é preciso encontrar maneiras de alcançar e incorporar e apoiar mais mulheres que atualmente não têm recursos tecnológicos.  

Promover espaços afetivos de acompanhamento como parte de nossa resistência, onde nossa mística e a irmandade abraçam nossas lutas acompanhadas pela celebração da vida e o cuidado de nossos corpos foi outra das exigências, juntamente com a necessidade de reforçar nossa identidade enquanto MMM com base em práticas de solidariedade, cooperação e sustentabilidade.

A Agenda política feminista das Américas

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As mulheres se propõem a fortalecer a mobilização permanente de nosso movimento e em ações de resistência, denúncia e solidariedade, com alianças internacionalistas e anti-imperialistas. E para fortalecer as propostas de novas assembleias constituintes e a formação de estados plurinacionais, que são passos necessários na luta pela democracia e pelo respeito aos povos originários.

Procuramos organizar um plano para estender e enraizar a MMM nos países e territórios, em nível internacional e regional. Nas Américas, aprofundar nossa ação no Caribe é uma parte especial deste processo. Em nossa agenda, levamos em conta as mulheres que vivem hoje em guerra, o militarismo, o deslocamento e as marcas da migração, os impactos das corporações transnacionais, assim como a violência e o tráfico. O antiracismo e a luta camponesa são marcas fundamentais de nossa luta, assim como as experiências de agroecologia e soberania alimentar, de solidariedade e defesa da vida nos territórios e comunidades e em mobilizações como a Marcha das Margaridas. Estas são práticas que precisam ser tornadas visíveis, juntamente com uma visão da sustentabilidade da vida baseada na economia feminista. Desta forma, a MMM está pondo em prática seu lema “resistimos para viver, marchamos para transformar”.

Para realizar esta agenda, foi avaliada a necessidade de articular a formação e a comunicação como eixos centrais no desenvolvimento das ações da Marcha Mundial das Mulheres. Isto enfatiza a necessidade de melhorar ainda mais as comunicações externas e internas, inclusive contribuindo coletivamente com o portal Capire e para nossos órgãos de comunicação regionais e internacionais. Garantir o acesso e o melhor uso possível das tecnologias também deve ser uma estratégia de nossa articulação.  Também foi acordado o acompanhamento da Escola Internacional Feminista Berta Cáceres, em suas edições na região das Américas e especialmente no Caribe. Nossa diversidade de participação, experiências e espaços de luta nos torna mais fortes, pois nos une em pé de igualdade com mulheres jovens, adultas e idosas na formação de nosso movimento e práticas políticas radicais e criativas. 

Representações e instâncias internacionais

As delegações decidiram então sobre suas representantes para o Comitê Internacional (CI) da Marcha Mundial das Mulheres, um grupo de coordenação que reúne mulheres das cinco regiões onde estamos em luta. O CI é importante para a organização da MMM em nível global, articulando as diretrizes entre regiões e aprofundando nossa luta anti-sistêmica.

As representantes do último mandato avaliaram o trabalho dos últimos anos, que teve uma organização permanente, com reuniões regulares que deram mais unidade à Marcha na região. Há os desafios de estruturar um processo de formação regional e incorporar mais a região do Caribe, e assim articular uma dinâmica que vai além dos limites das diferenças linguísticas. As representantes das Américas no Comitê Internacional eleitas para o novo mandato são Nalu Faria (Brasil), Tita Godinez (Guatemala) e Alejandra Laprea como suplente (Venezuela).

O nc

 

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