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Abertura interna do 3º Encontro Nacional da Marcha Mundial das Mulheres saúda a memória de Nalu Faria e dá início aos debates do evento

Na manhã deste sábado (6), militantes feministas de 23 estados brasileiros dão início ao Encontro Nacional da Marcha em Natal, RN

Por Coletivo de Comunicadoras MMM

Entoando canções militantes e palavras de ordem, carregando bandeiras, batuques e outros símbolos da identidade do movimento, a Marcha Mundial das Mulheres (MMM) deu início ao 3º Encontro Nacional “Nalu Faria” na manhã deste sábado (6), em Natal, no Rio Grande do Norte (RN). Ao todo, mais de mil mulheres de 23 estados diferentes de todas as regiões do país estão reunidas na capital potiguar para participar do evento. Além das militantes da MMM nacional, a abertura contou com a participação da coodenadora internacional da MMM Yildiz Temürtürkan e Pinar Yüksek, da Turquia, e da venezuelana Alejandra Laprea, do Comitê Internacional da MMM representando as Américas, bem como de participantes de movimentos sociais aliados.

O primeiro e o segundo encontros nacionais do movimento foram realizados em 2006 e 2013, respectivamente. O terceiro encontro iniciou recuperando brevemente a memória desses outros momentos, nos quais se formaram a batucada feminista da MMM e o Coletivo de Comunicadoras. Agora, em 2024, um grande e vibrante conjunto de batuqueiras feministas deu o tom da abertura interna do evento. “Feminismo é revolução!”, cantavam todas no início da abertura.

A memória de Nalu Faria, militante histórica da Marcha no Brasil e no mundo, esteve presente do início ao fim da abertura e seu legado inspira a todas a seguirem construindo o feminismo antipatriarcal, anticapitalista e antirracista. Seus ensinamentos alertam que só haverá revolução verdadeira na vida das mulheres se ela acontecer para todas e que, para construí-la, é preciso caminhar sempre no passo da mais lenta, sem deixar nenhuma mulher para trás. Nalu Faria presente, hoje e sempre!

Nessa primeira atividade oficial do encontro, o objetivo central foi discutir os desafios da conjuntura – nacional e internacional – e a luta feminista. A mesa de abertura contou com as participações de Bernadete Monteiro (BH), da Executiva Nacional da MMM, Mazé Morais (PI), da Confederação Nacional das Trabalhadoras e dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) e da Executiva, e Ana Priscila Alves (RJ), da MMM do Rio de Janeiro. A atividade foi coordenada por Rejane Medeiros (RN) e Cintia Barenho (RS).

Rejane destacou que a construção do Encontro Nacional foi uma soma de múltiplos esforços de todos os estados. No mesmo sentido, Bernadete expressou a emoção de ver o Encontro Nacional acontecendo, apesar de todos os desafios enfrentados durante o processo de organização. Fortalecer processos de luta e debates do movimento, além de atualizar sua agenda política, estão entre os objetivos do encontro.

Bernadete iniciou sua intervenção pontuando que sua fala era uma síntese de análises que foram feitas pelos estados nos debates anteriores ao encontro. Ao tentar responder o que se vê na atual conjuntura brasileira, com base nas contribuições coletivas, Bernadete destacou que há um acirramento do conflito entre o capital e a vida no Brasil, que se manifesta no aumento da exploração e da expropriação dos corpos, trabalhos, vidas e territórios das mulheres e da classe trabalhadora. Os ataques empreendidos pelas mineradoras, pelo agronegócio, pelas eólicas, entre outros agentes do capital, são expressões desse conflito.

Esses ataques são característicos da crise do capitalismo, que não significa seu enfraquecimento, mas, ao contrário, o emprego de velhas e novas estratégias para manter os níveis de acumulação. Os ataques do capital contra a vida são justamente essas estratégias. Eles são “uma aposta na morte”, disse Bernadete. Com a militarização, mas também com a cooptação de parte das pautas feministas, entre outras ofensivas, há uma tentativa de manter a hegemonia política, econômica e cultural do sistema dominante. 

Diante disso, a necessidade de construir mobilização feminista e popular permanente é cada vez maior. É preciso disputar o sentido público do Estado, mantendo a identidade de movimento. “As políticas públicas precisam ter uma dupla direção. Elas precisam suprir nossas necessidades, mas também nos fortalecer enquanto movimentos”, alertou Bernadete ao falar sobre a relação entre movimentos feministas e governos. A militante encerrou sua intervenção conclamando a todas a seguirem fortalecendo o feminismo como um projeto político de massas. 

A Secretária de Mulheres da CONTAG, Mazé Morais, que também faz parte da Executiva Nacional da MMM, deu início à sua fala concordando com Bernadete, ao defender a importância de fortalecer o feminismo popular diante dos desafios da conjuntura, que não são poucos. Mazé afirmou que as mulheres foram fundamentais para a vitória de Lula em 2022, ponderou que as feministas e a classe trabalhadora derrotaram o Bolsonaro, mas não o bolsonarismo. Desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2016, os desafios enfrentados pelo povo brasileiro se agigantaram, já que houve um desmantelamento da democracia. “Vivemos a pandemia de covid-19 da pior forma possível, mas ainda assim mantemos a resistência”, disse ela. Prova disso foi a realização da Marcha das Margaridas de 2019, que revelou a grande capacidade de mobilização do feminismo organizado no Brasil. 

“A Marcha das Margaridas é um bom exemplo de processo que, em aliança, constrói o feminismo popular e mostra que só organizadas a gente consegue incidir na conjuntura”, defendeu Mazé. A Marcha das Margaridas é uma experiência que demonstra que apenas a via eleitoral não é o bastante para construir uma democracia verdadeira e garantir direitos para todas as pessoas. Mazé terminou sua fala saudando a memória de Nalu Faria, cuja radicalidade da luta não deixa dúvidas que a luta é – e precisa – ser permanente. 

Os desafios e ataques experienciados pelas mulheres no Brasil estão conectados com o que vivem outros povos do chamado Sul Global. Foi o que afirmou Ana Priscila, da MMM RJ, ao dar início à sua contribuição. Em nível global, a divisão sexual do trabalho tem sido utilizada como ferramenta de ajuste da crise do capitalismo. Na prática, isso quer dizer que, para garantir seus lucros, os detentores do capital precarizam cada vez mais a vida e os trabalhos das pessoas, em especial das mulheres, e espoliam cada vez mais a natureza. Isso tem acontecido no Brasil, na Argentina, na Bolívia, entre outros países sob permanente ameaça de golpes. Golpes promovidos e/ou apoiados pelos Estados Unidos, cujos interesses imperialistas estão consonantes com as práticas da corporações transnacionais. 

Visto que a ofensiva do capital é internacional, a resistência popular precisa ser internacionalista. É preciso construir alternativas que deem conta de conectar o que as feministas fazem localmente com o que se vê em nível nacional e com as lutas empreendidas internacionalmente pelos povos. “Para isso, caminhar em aliança é muito importante. A gente se alia na luta popular. É por isso que a gente constrói a ALBA, as Jornadas etc.”, afirmou Ana Priscila. 

Ela defendeu que o principal desafio enfrentado pelo feminismo no momento é o acúmulo de forças. O 3º Encontro Nacional da Marcha Mundial das Mulheres “Nalu Faria” é um esforço nessa direção, que precisa reverberar nos territórios, em processos de luta que são constantes, pontuou Ana Priscila. Por fim, a militante lembrou que essas lutas precisam ter como horizonte a construção da soberania dos povos. 

Acompanhe a cobertura do 3º Encontro Nacional da MMM “Nalu Faria” pela página e redes sociais do movimento!

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A abertura também foi transmitida pelo Canal do Youtube da MMM. Clique para reassistir.

Confira alguns registros da abertura!

Fotos: Wigna Ribeiro

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