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3º Encontro Nacional da MMM discute 6ª Ação Internacional do movimento, que será realizada em 2025

Foto: Maria Fernanda Montero

“Seguiremos em Marcha contra as guerras e o capital, por soberanias populares e bem viver” é o tema da próxima ação internacional que terá início no 8 de março de 2025.

Por Coletivo de Comunicadoras

Na manhã deste domingo (7), a 6º Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), que será realizada em 2025, foi debatida pelas mais de mil militantes feministas presentes no 3º Encontro Nacional do movimento, que está acontecendo em Natal (RN). A discussão abriu o segundo dia de atividades do encontro e colocou o tema da futura Ação Internacional – “Seguiremos em Marcha contra as guerras e o capital, por soberanias populares e bem viver” – em pauta.

Ao som das batuqueiras, a plenária, que foi coordenada pelas companheiras Amanda Mendes (PR) e Renata Reis (SP), foi iniciada com a leitura de um poema de Salka Embarek, poeta do Saara Ocidental, em solidariedade às mulheres do mundo, que enfrentam as violências da expropriação capitalista em seus territórios. 

Eu sou o Saara
Salka Embarek

Serei guerra
e quando for necessário, serei paz.
Serei a paz da guerra
e o limite entre ambos
eu mesma marcarei.

Que não voltem a me chamar de fanfarrona,
Que nenhum ministro volte
a me provocar,
porque durante os anos da minha tragédia
já derrubei-lhes alguns muros
e consegui que caíssem seus falsos estandartes.

Não há governo usurpador
nem cruel
nem rei tão soberano
que possa me olhar nos olhos
e negar que seja culpado.
Não pode porque não se esquece das vezes que o enfrentei,
o expus e ganhei.

Olhe bem para mim,
porque o timão está em minhas mãos
e o vento sopra a meu favor,
não serei eu a que teme
não serei eu a que perde
nem ouvirás minhas palavras em vão.

Já sou velha,
passaram trinta e quatro anos
pisando em meu corpo
sob metros de terra enterrado.
Por mais de trinta anos deixaram
em minha boca sabores amargos,
alguns já não sinto,
outros viraram braços
de líderes desconhecidos
de mulheres com esperança
braços de mártires que voltam
crescendo na superfície
respondendo meu chamado,
o dessa velha que sou
e que agora volta jovem,
renovada.

Que não me chamem de fanfarrona,
porque meus filhos lhes responderão
que minha voz não anda só:
eu sou o Saara.

ESCUTE BEM O MEU NOME.

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Após a leitura do poema, a coordenadora internacional da MMM, Yildiz Temürtürkan, deu início à sua intervenção na atividade. Yildiz pautou a importância de compreender as mudanças que vêm acontecendo nas dinâmicas do capitalismo, que desafiam os movimentos sociais e o feminismo, mais especificamente, a formular novas estratégias de atuação a partir dos territórios. Nesse cenário, ações fortes e contundentes promovidas nos lugares onde as feministas estão organizadas é fundamental para ter capacidade de enfrentar esse sistema. 

Yildiz também avançou sobre as novas roupagens do colonialismo, em nível global, e sobre os avanços da extrema direita, que promove a misoginia e a lesbofobia, e a provoca o avanço da destruição da natureza, como é possível ver na aceleração das mudanças climáticas. Tudo isso demanda que os movimentos elaborem novas respostas para as crises e construam alternativas concretas a esse modelo predatório. Essa elaboração deve ser coletiva, feita em aliança com outras organizações anticapitalistas, e tem incidência nos níveis local, regional e internacional. 

A coordenadora internacional afirmou que recuperar os acúmulos políticos da Marcha Mundial das Mulheres será fundamental para a construção da 6ª Ação Internacional de 2025. “No próximo ano, marcharemos contra todas as formas de guerra, sejam as guerras convencionais ou híbridas. Marcharemos por soberanas, por nossos corpos, nossos territórios e pelo bem viver”, conclamou Yildiz.

A ação de 2025, assim como a que foi realizada em 2021, estará pautada em quatro pilares que estão ligados aos eixos de luta da MMM: 1) a defesa dos bens comuns contra a exploração das empresas transnacionais; 2) a proposição da economia feminista como alternativa concreta à economia capitalista, que também é patriarcal e racista; 3) a defesa da autonomia feminista sobre os corpos, as sexualidades e os territórios das mulheres; e 4) o enfrentamento à militarização e a outras formas de violência que assolavam territórios em todo o mundo.

Yildiz defendeu que a economia feminista é uma ferramenta de luta importante para o feminismo porque ela revela que as relações de poder e a organização econômica estão associadas, de modo que é preciso “mudar o mundo e a vida das mulheres em um só movimento”, como dizem as feministas da Marcha. “A economia está no centro das relações de poder. Como Silvia Federici fala, com a economia feminista entramos na jaula do leão para desafiar o sistema e o internacionalismo é o que nos dá forças para enfrentarmos esse leão, que é o capitalismo”, disse a militante.

Considerando o quarto eixo da Ação Internacional de 2025, ela terá início no Saara Ocidental e será finalizada no Nepal. Como em edições anteriores, ela irá começar no dia 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, e finalizar no dia 17 de outubro, Dia de Luta contra a Pobreza. Conectar a força feminista e a luta de classes será a premissa da ação e de todo o seu processo de organização. 

Nosso 4 eixo será para confrontar a militarização dos territórios e da vida das mulheres. E por isso começaremos nossa ação no dia 8 de março de 2025 no Saara Ocidental. Em todas nossas ações iniciamos as ações no 8 de março e terminamos em 17 de outubro. Sempre organizamos ações em âmbito local, nacional, regional e global. Conectando nossa força feminista, com feminismo e luta de classes.

“Estamos trabalhando para construir um símbolo comum que nos una como Marcha Mundial das Mulheres. Queremos ter tendas espalhadas pelo mundo. A tenda tem a ver com a luta por moradia, que também tem a ver com as mudanças climáticas, causadas pelo capitalismo. Um outro significado tem a ver com as migrações, e com as pessoas e as populações que migram e são refugiadas em todo o mundo. Em muitos lugares do mundo, como Ásia e África, trazemos essa simbologia das tendas na perspectiva dos povos. As tendas também acolhem nossas alternativas e debates, como a economia feminista, a agroecologia, a defesa dos comuns”, contou Yildiz.

A companheira da MMM da Turquia finalizou sua fala que da MMM Brasil, a Marcha Internacional espera a organização de uma Ação Internacional forte, que responda aos avanços da extrema direita, mas que também homenageie a vida e a luta da companheira Nalu Faria, cuja trajetória foi sempre marcada pela construção do feminismo internacionalista por princípio. Nalu Faria presente, hoje e sempre!

Depois da contribuição de Yildiz, a atividade contou com uma intervenção de Karina Morais, da MMM de Minas Gerais (MG). Karina falou da importância de ter mulheres de 23 estados reunidas no 3º Encontro Nacional da MMM para iniciar a construção da 6ª Ação Internacional. Para ela, essa ação se soma a um processo permanente de lutas que tem sido promovido no Brasil, palco de muitos enfrentamentos contra o colonialismo e o imperialismo.

A militante relembrou que as empresas transnacionais são agentes desse sistema desigual e explorador que tem atacado a vida das mulheres de diversas formas, entre as quais estão o envenenamento dos territórios e das águas, a destruição de seus saberes e modos de vida, e impunidade que mantém diante dos crimes ambientais que cometem. “Vimos isso com a Vale, em Brumadinho e Mariana, em Maceió, com a Braskem, e no Rio Grande Sul, com as recentes enchentes”, lembrou Karina.

“Temos denunciado o capitalismo verde, a maquiagem lilás, o avanço dos parques eólicos e o mercado de crédito de carbono. Tudo isso significa mais exploração de países do Sul Global. No Brasil temos visto desafios gigantescos, com as privatizações das escolas, do Sistema Único de Saúde, o avanço das empresas privadas nas políticas públicas”, comentou a feminista.

Karina falou ainda sobre a imprescindibilidade da solidariedade feminista internacionalista, a exemplo do apoio ao povo palestino. Ela lembrou que, em 2023, a Marcha Mundial das Mulheres realizou seu 13º Encontro Internacional, reunindo mulheres de 60 países diferentes. A realidade parecida entre os países, apesar de diversas particularidades, revela que lutar pela soberania é fundamental para mudar a vida das mulheres e dos povos. Soberania alimentar, tecnológica, comunicacional, popular, dos nossos corpos. Ela destacou nossa perspectiva de formação feminista popular e nossas ferramentas de mobilização feminista popular, como a nossa batucada. Acerca da comunicação, a militante reforçou a importância da comunicação popular e feminista, e de veículos como o Capire, que também atua pautando a justiça linguística como algo fundamental para a construção do feminismo popular.

Com essas reflexões, a atividade foi encerrada e as mulheres foram conduzidas a seminários temáticos relacionados aos eixos da Ação Internacional de 2025.

A programação do Encontro Nacional continua neste domingo e vai até a terça-feira (9). Confira a programação completa AQUI e acompanhe a cobertura do evento pela página e redes sociais do movimento!

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