Nos dias 07 e 08 de dezembro de 2024, a Marcha Mundial das Mulheres de Minas Gerais se reuniu em uma plenária estadual para planejar suas atividades de 2025. Estiveram presentes 112 participantes de 15 municípios mineiros. Além de refletir sobre a agenda de lutas, as militantes também construíram sua análise de conjuntura e debateram estratégias de organicidade no movimento.
Conjuntura
A análise de conjuntura contou com uma exposição inicial de Bernadete Monteiro, da Secretaria Executiva Nacional da Marcha Mundial das Mulheres, e Moara Saboia, da MMM de Contagem e, atualmente, vereadora pelo Partido dos Trabalhadores em Contagem. Elas propuseram uma reflexão sobre os resultados políticos das eleições municipais de 2024, assim como de eleições internacionais, e sobre o fortalecimento da agenda conservadora antifeminista da extrema direita. Ao redor do mundo e no Brasil, as guerras e o aumento da militarização fazem parte da reação do capitalismo em crise.
As militantes sublinharam a urgência de pautas como a redução da jornada 6×1, a defesa do direito ao aborto já garantido por lei e o avanço da legalização mais ampla, o combate à fome e ao agronegócio. A política nacional de cuidados, aprovada em 2024, precisa ser adotada por estados e municípios também, avaliaram.
Segundo Moara, os desafios para o próximo período incluem a valorização do salário mínimo e da aposentadoria, o direito ao aborto e o fortalecimento da democracia. Bernadete reforçou também a defesa dos bens públicos diante de ameaças de privatização (Cemig e Copasa, especialmente) e a defesa da natureza e das comunidades diante da exploração mineradora. “Nosso lugar é na rua e, para isso, precisamos estar organizadas”, concluíram as militantes do plenário. “É uma disputa desigual com o capital e as mídias, mas precisamos fazer o trabalho de formiguinha em busca da revolução, que começa por nós”.
6ª Ação Internacional
Em 2025, a Marcha Mundial das Mulheres tem um calendário de lutas intenso devido à sua 6ª Ação Internacional. As ações acontecem de cinco em cinco anos e são momentos importantes de mobilização e atualização do movimento.
Além de compartilhar o calendário da ação, as companheiras de Minas Gerais debateram o sentido da ação a partir de seu lema, “marchamos contra as guerras e o capital, defendemos a soberania dos povos e o bem viver”. A ação puxa uma reflexão sobre as diversas de formas de guerra do capital, assim como de soberanias populares que envolvem as várias dimensões da vida, como nossos corpos e tecnologias.
As tendas, símbolos da 6ª Ação, serão articuladas nas atividades brasileiras, sendo espaços de articulação, denúncia e exposição de alternativas. Em grupos, as militantes debateram temas e ações possíveis para realização no estado, como caravanas, rodas de conversa, encontros territoriais e ações de solidariedade, ações de comunicação, de agroecologia urbana e de formação.
Mobilizações das mulheres
Com a proximidade do 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, as participantes afirmaram a necessidade de uma mobilização de rua forte, com ampla participação popular. A proximidade com o carnaval é uma chance de articular uma batucada ainda mais criativa e de estabelecer relações com blocos feministas das cidades.
Também debateram a importância da participação da MMM na Marcha Nacional das Mulheres Negras, mobilização com um rico processo organizativo. Glaucia Matos introduziu o assunto com uma retomada da história da Marcha Nacional das Mulheres Negras e do movimento negro. A MMM tem um papel fundamental na visibilidade das lutas das mulheres negras do campo e da cidade. “Precisamos estar em mobilização permanente. Precisamos estar fortalecidas para derrotar aqueles que continuam nos oprimindo, mas só fazemos isso em movimento e em marcha”, foi dito durante a plenária.
Formação e organicidade
Elaine Bezerra, do Núcleo Cidona da Marcha Mundial das Mulheres, iniciou o debate sobre experiências de formação da MMM. “Temos o desafio de retomar um processo permanente de formação feminista que dialogue com nossas lutas nos territórios”, pois “a formação é um elemento de disputa, o capital e as elites disputam nossa forma de ver o mundo. A nossa formação precisa nos movimentar e contribuir para acumularmos força para mudar essa sociedade”, explica ela.
Uma das principais experiências em Minas Gerais foi a Escola de Formação Feminista estadual, mas também recordou-se experiências de construção de formação com movimentos sociais aliados. O desafio para 2025 é retomar um processo permanente de formação conectado aos territórios e às tarefas políticas do ano.
A formação é fundamental para a construção do movimento, assim como coletivizar a memória da MMM e toda sua história de lutas e de elaborações antissistêmicas. Partindo do global para o local, as militantes se dividiram em grupos para refletir sobre a atuação e a organização dos núcleos municipais ou territoriais do estado. Decidiram ações para o autofinanciamento, a comunicação e a formação, e se fortaleceram muito para as lutas de 2025.
Esse encontro foi realizado com aportes do Termo de Fomento nº 958564/2024 do Ministério das Mulheres com SOF Serviço de Orientação da Família, nome fantasia SOF Sempreviva Organização Feminista.