Em Minas Gerais as mulheres denunciam nesta 6ª Ação Internacional: “Água e energia não são mercadoria! CEMIG esse trem é nosso!”

10/09/2025 por

Créditos @niveamagno_ MAB

MMM ocupa Assembleia Legislativa e vai às ruas contra as privatizações junto à movimentos e organizações

No último dia 14 de agosto de 2025 cerca de 300 mulheres de diversas regiões de Minas Gerais se reuniram em Belo Horizonte em um “Dia de luta pela contra as privatizações, em Defesa dos Bens Comuns e Economia Feminista!

O dia de luta envolveu uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Belo Horizonte em seguida de um Ato Político e Cultural nas ruas. A atividade fez parte do calendário da 6ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) nos Eixos: Defesa dos Bens Comuns e Economia Feminista.

Clique aqui e acesse a página com os vídeos produzidos pelo Coletivo de Comunicadoras com registros da 6ª Ação pelo Brasil!

Mulheres da MMM e de movimentos e organizações aliadas vieram de vários locais do estado para a capital: Contagem, Uberlândia, São João Del Rei, Juiz de Fora, Brumadinho, São Joaquim de Bicas, Montes Claros e cidades do norte de Minas, Poços de Caldas, Ituiutaba, Monte Alegre, Araxá.

A articulação com os outros movimentos e organizações foi muito importante para fortalecer e ampliar as alianças da MMM, além de fortalecer e dar visibilidade as lutas que as mulheres têm enfrentado em Minas Gerais. Além disso, a atividade fortaleceu a organização interna das marchantes, avançou na capacidade de construção coletiva das tarefas e enraizamento das nossas lutas nos diversos territórios.

Audiência Pública

A audiência pública levou o lema da 6ª Ação Internacional “Marchamos contra as guerras e o capitalismo, defendemos a soberania dos povos e o bem viver” para denunciar as ameaças das privatizações e os avanços das empresas transnacionais sobre os bens comuns e os modos de vida dos territórios no estado. Avanço que produz inúmeras violências, patriarcas e racistas que colocam em risco a vida das mulheres e comunidades.

Também foi um momento da MMM apresentar o projeto político feminista de transformação, construído a partir da economia feminista e das diversas iniciativas auto-organizadas pelas mulheres na defesa dos territórios e da vida.

Clique aqui e veja a série de vídeos sobre os eixos da 6ª Ação (“Economia Feminista”, “Defesa dos bens comuns”, “Paz e Desmilitarização” e “Basta de Violência”)

A sessão na assembleia começou  “no batuque do tambor!” com as batuqueiras da MMM trazendo o feminismo popular da MMM com seus cantos e ritmos: “Oh abre alas que as mulheres vão passar, com essa Marcha muita coisa vai mudar! Nosso lugar não é no fogo ou no fogão, a nossa chama é o fogo da revolução!”.

A audiência pública foi realizada a partir do requerimento das deputadas estaduais Beatriz Cerqueira, Leninha e Bella Gonçalves que coordenou debate que contou com a participação das companheiras: Miriam Nobre, da Executiva Nacional da MMM da SOF Sempreviva Organização Feminista, Bernadete Esperança da Coordenação Estadual da MMM MG e Executiva Nacional da MMM, Camila do Levante Popular da Juventude, Valéria – Movimento das trabalhadoras e trabalhadores por direitos (MTD), Sioneide – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Stéfani Luiza Arcanjo do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), Júlia Sanders do coletivo de mulheres do Movimento por soberania popular da Mineração (MAM), Dehonara Silveira do Sind. Trabalhadoras da SindSAUDE-MG) Denise Romano (Sind-UTE/MG), Moara Correia Sabóia, vereadora de Contagem,  Laiz Perrut vereadora de Juiz de Fora, Denise Borges Ferreira (SINDIELETRO-MG), Silvia Maria Alves Ferreira (SINDÁGUA-MG) Maria Dorvalina de Medeiros (CUT MG).

Miriam falou sobre como os momentos de Ação Internacional da MMM são importantes pois reúne muitos eixos de luta para construção de síntese coletiva, e também de construção de estratégias para enfrentar as violências. Citou o exemplo de uma ação anterior quando mulheres da Paraíba que estavam começando a serem abordadas por empresas para a instalação das torres de energia eólica, foram trocar experiências com companheiras do Rio Grande do Norte, que já estavam fazendo este enfrentamento. Aquela troca fortaleceu as paraibanas para lidar com a chegada das empresas em seus territórios.

Ela também recuperou os princípios que conduziram a primeira Ação Internacional da MMM, 25 anos atrás. O lema “Contra a pobreza e a violência contra as mulheres” provocava a necessidade de aprofundar na denúncia e compreensão sobre as causas da violência, a partir do capitalismo patriarcal e seus mecanismos de promoção de guerras para expandir suas áreas de comércio e exploração dos territórios.

As marchantes mineiras pautam a Defesa dos Bens Comuns e a Economia Feminista pois são lutas que estão conectadas e articuladas há muitos anos, como enfatizou Bernadete Esperança, da coordenação nacional e estadual da MMM MG:

“Nos 8 de março, nas plenárias organizativas da Marcha, nos espaços de debate e construção com os movimentos aliados, nós temos temos apontado as privatizações como um dos principais ataques do atual governo, do governo Zema, contra nós, mulheres. E nós precisamos divulgar e firmar isso em todos os cantos de Minas Gerais. Este governador que está aí, expressa um projeto de morte, ele é inimigo das mulheres.

E por que promover as privatizações é ser inimigo das mulheres? Porque nós mineiras, mineiros, sabemos muito bem, nas nossas vidas, nas nossas carnes. Privatizaram a Vale do Rio Doce, que hoje é Vale, e isso matou centenas de pessoas, com o crime de Mariana, com o crime de Brumadinho. Matou o Rio Doce, matou o Rio Paraopeba. Matou centenas de pessoas que, se não morreram no rompimento da barragem, morreram porque de alguma forma suas vidas foram destruídas depois. A possibilidade delas gerarem e produzirem vida naqueles territórios. De produzir comida, de produzir cuidado.

Nós sabemos o que a privatização significa. Significa morte. Privatizar a Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA) é dizer que estão  mercantilizando bens comuns. Se a gente precisa pagar ainda mais por água e energia, falta para comprar comida. Falta para pagar outras coisas. Falta para a gente ter cultura, lazer. E o exemplo que temos em outros estados é que piora e muito o serviço prestado. Por que o que determina é o lucro e não o acesso. Defender a CEMIG e a COPASA é defender nossas vidas e nossos territórios e construir uma economia em outros marcos. E isso a gente precisa conversar com as nossas vizinhas, parentes, amigas. A gente não precisa ser especialista para debater sobre isso porque a gente fala a partir das nossas vidas concretas, o que a gente enfrenta. De como o capital se apropria dos nossos bens e comuns e de como a gente não vai deixar entregar mais para eles.”

A crítica das mulheres perpassa todas as esferas de cuidado com a vida: saúde, moradia e contra as privatizações. No campo da saúde, a companheira Dehonara de Almeida do Sind-Saúde enfatizou o sofrimento da população em situação de emergência cirúrgica, mulheres atingidas pela violência e que necessitam ser atendidas, crianças que precisam de procedimentos de emergência, e tantos outros casos urgentes que o povo mineiro vem enfrentando, enquanto hospitais inteiros em boas condições estão desativados gerando sobrecarga de outras unidades fruto do descaso do governo estadual de Zema na saúde e “usada como ativo financeiro para ser vendida, privatizada e gerar lucros para empresários”.

Silvia Ferreira, do SINDÁGUA denunciou a deterioração e sucateamento do serviço público de abastecimento de água, saneamento e de fornecimento de energia. A precarização das/os trabalhadoras/es assim como uma narrativa de ineficiência do serviço, que vem sendo promovido pela atual gestão é intencional, com objetivos de privatizar a COPASA e a CEMIG.

Denise Romano, do Sind. UTE- MG também enfatizou a denúncia da mercantilização da educação pública. “Não se trata de um governo privatista e sim de um governo destruidor dos serviços públicos”. A sindicalista denunciou os projetos que visam entregar a administração das escolas públicas para organizações da sociedade civil e a luta sindical para barrar tais projetos. Investida que também passou a ser pela via da militarização das escolas, que na prática representa políticas racistas e classistas para tirar a escola pública do povo.

A companheira Denise Borges Ferreira do Sindieletro enfatizou que “Sem luz e sem água, os outros setores param. Privatizar as estatais, principalmente tentando burlar um dispositivo constitucional como a PEC 50, é antidemocrático. Zema não quer consultar o povo mineiro por meio do referendo popular, como a lei estabelece”. E neste sentido também refletiu que frente a este cenário de crise sistêmica global, os direitos já conquistados pelas mulheres são sempre colocados em risco. “Por isso, a economia feminista é urgente. Precisamos repensar o cenário atual, levando em conta como o gênero, o poder e a desigualdade se misturam em tudo, desde como produzimos e distribuímos até como consumimos os bens e serviços”.

A denúncia da escala de trabalho 6X1 também foi ressaltada pelas falas das companheiras, sobretudo em relação ao reforço das dinâmicas desumanizadoras na vida das mulheres negras, que ocupam os postos de trabalho mais precarizados e com mais dificuldades para lidar com os trabalhos de reprodução em suas casas.

Nas falas dos movimentos sociais companheiras do MAM, MAB, MST, Levante Popular da Juventude, MTD, também fizeram suas denúncias e apontaram as alternativas construídas.

As companheiras dos movimentos ligados à luta contra as mineradoras, como Stéfani Luiza Arcanjo do MAB e Júlia Paolinelli. do MAM, trouxeram aspectos urgentes sobre como as mulheres são centrais na luta contra as mineradoras, assim como as mais afetadas pelos megaprojetos. 

Elas denunciam a ação de manipulação por parte das empresas transnacionais de sistematicamente tentarem impedir a atuação das mulheres e de serem titulares das indenizações nas comunidades afetadas. O que reforça o caráter da violência patriarcal, que também incentiva a prostituições de mulheres e meninas, além da criminalização das lideranças. Outros problemas citados pelas companheiras é o alto índice de  violência contra as mulheres, os impactos na saúde mental e física da população, o aumento do trabalho doméstico e de cuidados, além de conviverem com o medo constante de novos rompimentos.

E por isso, a construção do feminismo popular é fundamental não apenas para a vida das mulheres, mas também na luta pelos bens comuns, as mulheres das comunidades tradicionais, quilombolas, mulheres negras, indígenas estão na linha de frente deste enfrentamento. Seguiremos reafirmando: Mulheres, água e energia não são mercadorias!

A companheira  Rosemary Martins, da  MMM de Ituiutaba compartilhou a poesia feita especialmente durante os debates da Audiência:

Poema de  Rosemary Martins

De lar em lar, no campo ou no asfalto, seguiremos firmes em busca de revolução.

Sem teto, sem água, sem ar.

Para onde essa privatização quer nos levar?

Fechar as portas para a educação é isso que querem para a nossa população.

Leigos e sem conhecimento, sem sabedoria, é um tormento.

Mulheres e crianças vítimas da violência, da negligência hospitalar.

Sem solo, sem teto, sem lar.

Precisamos de políticas atuantes para nos ajudar.

Nossos jovens favelados, marginalizados e aprisionados, sem ninguém para ajudar.

Precisamos de ajuda.

Meu Pai abençoado, venha nos salvar.

Queremos políticas de cuidado para nossas mamães acalentar.

Mães solos e atípicas sem o mínimo para se sustentar.

Tudo isso precisa mudar.

Todos os movimentos em luta, por dias melhores, iremos juntos lutar para nossas vidas mudar.

A sessão completa foi gravada e está disponibilizada com todas as falas no YouTube da ALMG:

Ato público e cultural: As mulheres reafirmaram nas ruas: não aceitaremos que privatizem o que é do povo! Água, energia, saúde e educação não são mercadorias!

Após a Audiência, as mulheres seguiram para as ruas da capital em um Ato Político Cultural.

Bernadete enfatizou: “Fomos até lá para dizer que somos contra as privatizações porque precarizam mais as nossas vidas e ainda transformam em mercadoria aquilo que é bem comum: água, energia, água, saúde e educação. Além de termos vivenciado o que significou a privatização da Vale do Rio Doce, que virou Vale e matou rios e gente! Com nossa batucada gritamos palavras de ordem: Água e energia não são mercadoria! CEMIG esse trem é nosso!”

As mulheres ocuparam as ruas contra as privatizações da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA), da educação e da saúde, e contra o desgoverno Zema, que segue atacando o que é patrimônio do povo mineiro.

Seguimos tecendo resistência e construindo alternativas concretas com coragem, organização e muita força feminista! Em um sistema que lucra com a exploração da natureza, do trabalho das mulheres e de nossas vidas.

Enquanto grandes empresas destroem os territórios e concentram riquezas, nós seguimos garantindo o cuidado, a alimentação, a saúde, a água, a terra. Nós, mulheres, sustentamos a vida!

Confira a galeria de fotos:

Créditos: Nívea Magno/ MAB e Maria Beatriz SINDIELETRO

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