Marcha Mundial das Mulheres Região das Américas se reúne no México, leia a declaração

19/09/2025 por

A Marcha Mundial das Mulheres região das Américas realizou sua reunião regional em agosto no México, com representantes de Coordenações Nacionais (CNs) de 15 países/ territórios: Argentina, Bolivia, Brasil, Chile, Cuba, El Salvador, Guatemala, Haití, Honduras, México, Paraguai, Peru, Quebec, Uruguai e Venezuela. O Brasil esteve representado por Maria Fernanda Marcelino, da coordenação executiva.

Além da declaração regional síntese dos debates, as marchantes também confeccioanaram um grande tecido coletivo, com contribuições de todas as CNs para compor a Tenda das mulheres, símbolo da solidariedade feminista internacional da 6ª Ação Internacional da MMM, que encerra suas atividade em outubro.

Declaração da Marcha Mundial das Mulheres, Região das Américas

Chiapas, México 20-22 de agosto de 2025

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Acesse em espanhol, inglês e francês no site da MMM Internacional

Nós, feministas populares da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), provenientes de 15 territórios da Nossa América, Abya Yala, nos reunimos durante três dias, no âmbito da 6ª Ação Internacional, em San Cristóbal de las Casas, para construir nossa visão coletiva sobre o continente e consolidar ações por uma América livre, soberana e feminista.

Em um mundo onde se impõem guerras e corridas armamentistas, onde territórios são invadidos, genocídios são silenciados e o objetivo é expandir o imperialismo, as mulheres da região assumem a responsabilidade de continuar defendendo a paz no continente e no mundo. Nós nos unimos à exigência dos povos de que não desistamos diante da injustiça, da matança de crianças e mulheres e do uso da violência sexual e da fome como armas de guerra. Denunciamos o genocídio do povo palestino e as instituições internacionais cúmplices com seu silêncio e inação. Apoiamos a luta incessante das mulheres saarauís e denunciamos os bloqueios políticos e econômicos do governo dos Estados Unidos que impedem o pleno desenvolvimento da Venezuela e de Cuba.

Denunciamos a ascensão da direita, do fascismo e dos fundamentalismos religiosos em nossos territórios, que atacam os direitos conquistados e estigmatizam as lutas com discursos de ódio.

Daqui, conclamamos todas as mulheres da região e do mundo a se unirem em uma única frente e levantarem as bandeiras da solidariedade internacionalista.

Vivemos em um mundo onde a opressão das trabalhadoras está aumentando. A cada dia aumenta a sobrecarga de tarefas em trabalhos mal remunerados ou sem remuneração. Multiplicam-se as responsabilidades de cuidar das famílias, comunidades e pessoas vulneráveis em um contexto marcado pela precariedade das políticas públicas e por dificuldades de acesso à alimentação, educação e saúde.

Observamos que essa situação de precariedade da vida contrasta fortemente com os lucros das corporações transnacionais, a ascensão dos poderes corporativos transnacionais e sua influência na política internacional, nas organizações multilaterais e na própria vida.

Convocamos todas as organizações populares, em toda a nossa diversidade, a incorporar a economia feminista como uma estratégia para enfrentar o avanço da direita e do fascismo.

A economia feminista é um pensamento, uma prática e uma aposta política. É a economia que reconhece a rede da vida, a interdependência entre as pessoas e em relação à natureza, e a assumimos como uma alternativa ética ao extrativismo e à captura corporativa dos Estados. 

Somos solidárias com as comunidades que resistem, especialmente com as mulheres dos povos da região Macronorte do Peru, que rejeitam o avanço do extrativismo; com as irmãs haitianas que enfrentam as gangues criminosas com seus corpos; com as irmãs da Argentina que estão enfrentando o neoliberalismo mais feroz. Abraçamos as irmãs de Honduras e os povos nativos da Guatemala. Nós as acompanhamos em seus desafios.

Estamos ao lado das mulheres de El Salvador que, com sua coragem, enfrentam leis como a chamada Lei dos Agentes Estrangeiros, que criminaliza seu trabalho.

Estamos ao lado das mulheres migrantes nos Estados Unidos da América, que são criminalizadas, perseguidas e vítimas de todos os tipos de violações dos direitos humanos.

Somos solidárias com as mulheres Mapuche vítimas de perseguição e desaparecimento. Acompanhamos as lutas e a resistência de nossas companheiras no Chile, Brasil, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Estamos com todas as mulheres que enfrentam o fundamentalismo religioso, os avanços da direita e o fascismo.

E, nesta bela cidade que nos acolheu, estamos acima de tudo com as lutas e as mulheres de Chiapas em sua defesa de seu território e sua proposta de bem viver.

Nos comprometemos a:

  • Fortalecer a memória organizacional e a coerência política por meio da reconstrução documental e do debate coletivo.
  • Reafirmar a economia feminista como um horizonte político que vai além de sua redução à visibilidade da economia do cuidado.
  • Enfrentar a violência estrutural contra as mulheres com ações comuns, especialmente em contextos como o do Haiti.
  • Denunciar as múltiplas formas de guerra e militarização e defender as Américas da intervenção.

Com a força de nossas ancestrais, a clareza de nossas convicções e nosso horizonte político, reafirmamos, no marco da 6ª Ação Internacional, o compromisso incondicional de continuar fortalecendo as redes feministas populares em todo o continente.

De San Cristóbal de las Casas, tecemos com esperança e rebeldia, nós, delegadas de: Quebec, México, Honduras, Guatemala, El Salvador, Cuba, Venezuela, Haiti, Chile, Brasil, Peru, Bolívia, Argentina, Uruguai, Paraguai.

Marchamos contra as guerras e o capitalismo!

Defendemos a soberania dos povos e o Bem Viver!

Setembro 2025

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