O aumento do militarismo, o fundamentalismo, a violência, a morte, a opressão e o avanço da extrema-direita é cada vez mais latente, atingindo a vida das mulheres e das comunidades de todo o mundo de diversas formas. O fundamentalismo religioso e cultural continua a alastrar o terror, a morte e a opressão e alimenta grupos de extrema-direita que rapidamente têm vindo a ganhar cada vez mais força. Por outro lado, os governos capitalistas usam a segurança nacional e a luta contra o terrorismo como fundamento para interferir na política internacional, com o objetivo de controlar os recursos naturais, restringir a imigração, limitar os direitos civis e criminalizar os protestos.
É este o ciclo vicioso no qual hoje nos encontramos. O fundamentalismo está a gerar mais fundamentalismo. A violência tem como resposta mais violência. As guerras são “prevenidas” com o reforço das forças armadas. Entretanto, gente inocente, famílias, comunidades, civis de todo o mundo sofrem as consequências desta loucura.
No dia 14 de Julho, um sangrento massacre teve lugar em Nice, na França, com um balanço total de 84 pessoas mortas e outras 303 feridas. Reações de todo o mundo a este trágico acontecimento acompanham a teoria do choque das civilizações e sugerem a necessidade de uma maior controle e militarização.
Na Turquia, a 15 de Julho, o Exército anunciou tomar o poder e declarou o toque de recolher desde a o canal de televisão pública TRT. O presidente Erdogan rapidamente tirou proveito do falhado golpe de estado para lançar uma campanha de caça às bruxas contra a sua oposição, não apenas contra os militares implicados na tentativa de golpe, como também procuradores, jornalistas, juízes e funcionários do ensino foram cercados. Enquanto islamitas radicais ocupam as ruas, as forças democráticas têm sido oprimidas e as mulheres são constantemente assediadas pelos apoiadores de Erdogan.
A tentativa de golpe de estado falhou com mais de 200 pessoas mortas e o pior parece estar ainda para chegar, porque as prisões e demissões estão se alargando a outros setores. Nos últimos dias, cerca de 6.000 pessoas foram presas e muitas mais foram despedidas ou suspendidas das suas funções. Este é o caso de 9.000 agentes de polícia, 2.700 juízes e 15.000 pessoas no âmbito educativo. Para além disso, foram reconvocadas 24 licenças de rádio e TV depois da tentativa de golpe.
O governo opressor de Erdogan tem mantido a Turquia no caos e conflito permanentes nos últimos anos e parece que a tentativa de golpe está a ser usada como desculpa para manter a sua ditadura islamo-fascista, aumentar o controle e a repressão de qualquer oposição, assim como suprimir os Direitos Humanos no país.
Nós, da Marcha Mundial das Mulheres, denunciamos uma vez mais a militarização, o aumento das despesas armamentistas e a estratégia de combater a violência com mais violência. Sabemos que estas estratégias apenas acarretam mais desgraças às mulheres e às comunidades de todo o mundo. Sabemos que alimentam os fundamentalismos e polarizam o nosso mundo. Este não é o mundo que queremos.
Hoje enviamos a nossa solidariedade e força a todas as nossas companheiras da Marcha Mundial das Mulheres na Turquia que estão na linha da frente na defesa da democracia e dos direitos das mulheres. Estendemos a nossa solidariedade ao povo curdo e ao resto dos povos e comunidades que vivem na Turquia.
- Exigimos ao Presidente Erdogan e ao seu governo que cesse imediatamente as detenções, a tortura, as prisões e demissões arbitrárias no país. Qualquer ação tomada pelo governo deve cumprir a Declaração Universal dos Direitos Humanos, assim como os restantes protocolos internacionais firmados pela Turquia.
- Pedimos à comunidade internacional, especialmente às Nações Unidas e à União Europeia, que monitore a situação de perto com o objetivo de garantir que o Estado de Direito se mantenha vigente, que os Direitos Humanos sejam respeitados e para evitar que a Turquia seja arrastada para uma situação mais caótica e com um conflito mais grave.
A Marcha Mundial das Mulheres une-se em solidariedade com as mulheres e povos da Turquia e França, assim como todos os povos que sofrem com violência, fundamentalismo, terrorismo e militarização. Seguiremos em Marcha até que todas as mulheres vivam em Paz, Justiça e Liberdade.