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As mulheres da MMM Américas se reúnem para discutir seus pontos fortes e potenciais

Por GT de Comunicadoras do Encontro Regional MMM Américas

Na manhã de sexta-feira, 10 de setembro, teve início o Encontro Regional da Marcha Mundial das Mulheres das Américas, no qual foram levantadas questões relacionadas com a realidade da região.

4Nossa realidade

Durante a leitura do documento central, foi dada ênfase aos desafios da pandemia de covid-19 que causou a morte de milhões de pessoas no continente, à crise global gerada pelo endividamento de governos capitalistas e grandes corporações e às medidas de ajuste, fechamento de empresas, demissões em massa.

O documento também reconhece que, por outro lado, tal crise foi acompanhada de manifestações públicas, explosões sociais, transformação popular. Ao mesmo tempo, são visíveis o aumento dos bloqueios a países cujos governos se opõem à subjugação imperialista e a migração massiva para outras partes do continente.

Tudo isso levou a novas correlações de forças dos movimentos populares, incluindo os movimentos feministas que marcaram o processo constituinte no Chile, o aborto seguro e livre na Argentina e, no Peru, a chegada de uma professora camponesa à presidência.

Em outros países como o Brasil, as medidas neoliberais contra a saúde e a vida baseadas em um governo genocida levaram a mobilizações em rejeição ao governo Bolsonaro. Nos EUA, a crise econômica afetou principalmente a população negra, a classe trabalhadora e migrante. E, no México, a despossessão territorial, a instalação de megaprojetos e o tráfico de drogas continuam. Por sua vez, Honduras tem os mais altos índices de pobreza e desigualdade da América Latina, enquanto que Quebec tem altos índices de violência doméstica. Venezuela e Cuba continuam sob um forte bloqueio imperialista, mas apesar disso, a maior das Antilhas está promovendo o desenvolvimento de vacinas contra a covid-19.

Nossa resistência

Também foi reconhecido que, diante disso, surgiram respostas de movimentos e organizações da região, alianças entre organizações feministas e de mulheres. O processo orgânico nas Américas tem estimulado reuniões mensais, participação em ações internacionais como a 5ª Ação Internacional, atividades em espaços como o Fórum das Américas, oficinas virtuais com temas como o contexto da pandemia, a sustentabilidade da vida e as dinâmicas e desafios dos movimentos.

O boletim das Américas foi consolidado desde 2018, e o portal Capire foi criado recentemente para fortalecer referências locais e internacionais de feminismos populares, anticapitalistas e antirracistas. Espaços de formação, como a Escola Feminista Internacional Berta Cáceres, continuam a ser uma prioridade.

A agenda da região é marcada por posições feministas antissistêmicas, em diálogo com a defesa dos territórios, a soberania alimentar e a justiça ambiental. Também é acompanhado por lutas antipatriarcais e por um estado plurinacional e multissetorial.

5Pontos fortes e potenciais

Na parte da tarde, as mulheres se dividiram em grupos para conversar sobre como olhamos para os acúmulos de nossas propostas políticas, pontos fortes, fraquezas e desafios. Com essas perguntas, as mulheres discutiram sobre como lutar por justiça enfrentando uma agenda antidireitos, entendendo que as lutas antipatriarcais, anticapitalistas e antirracistas estão vinculadas com a luta em defesa da natureza e dos territórios.

Outro ponto destacado é nossa diversidade nas formas de organização, nossa memória, nossa formação popular feminista. Ainda assim, temos o desafio de ampliar nosso movimento em todos os âmbitos para consolidar a MMM como plataforma política; e avançar na integração das mulheres das distintas regiões. Acumulamos uma longa trajetória de lutas, e precisamos avançar em nossas alianças e articulação regionais e globais, reforçando a conexão entre o internacionalismo e a luta local, e também as estratégias de disputa na área da comunicação. 

Dentre nossos pontos fortes, as mulheres destacaram a capacidade organizativa a partir do nosso feminismo internacionalista que consegue agregar nossas diversas maneiras de organização nos territórios. A diversidade geracional no encontro é uma fortaleza de nossa construção política. Nossa fortaleza é construir alternativas concretas, solidárias e cotidianas, dando visibilidade à luta pela terra, à soberania alimentar e ao trabalho das mulheres, e reconhecendo nossos saberes coletivos. A defesa dos nossos territórios é forte em todas regiões onde estamos impulsionando nossa organização. 

Destacou-se, porém, a dificuldade de organizar movimento em tempos de pandemia e de fragmentação, e a necessidade de focar nas apostas estratégicas ao invés de nos fecharmos em caminhos reativos. Tal dificuldade só pode ser contornada com criatividade, diversidade e uma proposta política que coloque a sustentabilidade da vida no centro.

Somos fortes em destacar nossa visão feminista sobre a economia, tornando visível a contribuição das mulheres para a sustentabilidade da vida e para a luta contra a violência contra as mulheres, especialmente as mulheres negras e indígenas. Observamos também a necessidade de compreender a integralidade das lutas, uma vez que as dimensões das opressões que vivemos estão entrelaçadas.

Esses debates encerraram o primeiro dia do Encontro Regional da MMM nas Américas, que é preparatório para o 12º Encontro Internacional da MMM. E hoje, sábado, as participantes do encontro seguem reunidas.

 

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