A última quarta-feira, 15 de maio, foi um dia histórico. Todas as capitais do país e muitas outras cidades do interior foram palco de manifestações gigantes em defesa da educação pública. Escolas básicas, institutos e universidades federais fizeram paralisações, porque nesse dia a aula foi na rua.
Contra os cortes
O ministro da educação do governo Bolsonaro, Abraham Weintraub, determinou um corte de 30% da verba para as universidades públicas. A porcentagem do corte varia de acordo com as universidades, com o critério da “balbúrdia”, que configura claramente uma perseguição política ao movimento estudantil e ao pensamento crítico. Os cortes reduzirão muito o número de bolsas de pesquisa, a verba para permanência e a garantia de estrutura universitária. Na prática, os cortes impedirão o acesso da população mais pobre à educação e à ciência. “Nós viemos dizer que o conhecimento que nós produzimos é fundamental para a sociedade. Porque o conhecimento que produzimos diz que a orientação desse governo está equivocada, porque está servindo à elite e não ao povo trabalhador”, disse Mariana Lacerda, da Marcha Mundial das Mulheres do Ceará e do Centro Acadêmico de Ciências Sociais da UFC.
“Esses cortes afetam sobretudo a vida das mulheres negras, pobres e periféricas, que se inseriram nas universidades e institutos federais públicos através das políticas de ações afirmativas. Com os cortes, elas correm um sério risco de não estarem mais nesses espaços. Sabemos que na universidade as mulheres têm oportunidades de ter qualificação profissional, o que influencia diretamente a autonomia econômica na vida das mulheres. E é um espaço importante para a formação e para a construção do feminismo em nosso país”, explicou Carol Azevedo, militante da MMM em Palmas (TO).
Por todo o país
As manifestações reuniram uma enorme quantidade de pessoas em todas as cidades. Somando todas, pode-se dizer que mais de um milhão de pessoas estiveram na rua no Brasil. Só em São Paulo e Belo Horizonte, estima-se a participação de 250 mil pessoas em cada.
Muito diversas, as manifestações reuniram pessoas de organizações de esquerda, partidos e movimentos, mas também muitas pessoas que se organizaram em suas escolas, universidades e locais de trabalho, de crianças a pessoas idosas. “É preciso lutar durante toda a vida, por isso fui às ruas hoje. Fiz pouco durante a vida? Acho que não. Fui omissa? Não. Fui medrosa? Também não. Fui apenas cidadã lutando pelos meus direitos e de toda minha comunidade. Assim espero que todas e todos lutem também por mim”, declarou Sônia Bonfim, da MMM de Ubatuba (SP).
Segundo Maynara Moura, também da MMM de Ubatuba, “tinha muita gente olhando com curiosidade para o evento na praça, outras pessoas foram entrando, fizeram parte do movimento. Acho que cada dia mais as pessoas estão tomando consciência, buscando informação. Estamos cada dia mais insatisfeitas com esse governo e isso está atingindo todas as esferas da sociedade”.
Educação derruba o capitão, greve geral derruba o capital!
Para o pavor do governo, esta mobilização tão grande não para por aí. As entidades estudantis já convocaram mais um ato em defesa da educação, que acontecerá no dia 30 de maio. Além disso, todas as centrais sindicais estão convocando de forma unitária uma greve geral no dia 14 de junho, que promete ser ainda maior.
A greve denunciará a reforma da previdência proposta pelo governo. Se aprovada, a reforma irá acabar com a seguridade social e criará um cenário de miséria entre a população mais velha. Para as mulheres, os resultados serão drásticos: a maioria das mulheres são conseguirá se aposentar, e as que conseguirem receberão um valor irrisório, mesmo trabalhando a vida inteira. Tanto a reforma da previdência quanto os cortes da educação públicatêm a mesma raiz: a política neoliberal, que pretende retirar direitos e privatizar tudo.
“É um desmonte total, tanto na previdência quanto na educação, nas escolas e nas universidades. Acho que esse governo, na verdade, é um desgoverno. Ficar só em casa reclamando nas redes sociais não vai resolver. tem que pegar seus cartazes, ir para a rua e exigir os nossos direitos. As conquistas foram árduas. Como vamos perder tudo agora?” questionou Nalva Barbosa, da MMM de Ubatuba.
As mobilizações serão fortes e apontam para a construção de outro projeto de sociedade: “quando você vê as meninas se envolvendo, dirigindo, pedindo educação, liberdade, igualdade, solidariedade, é uma grande esperança para a gente. Ontem abrimos uma janela e respiramos um ar novo, de quem tem esperança e possibilidade de mudança. Esse ato acumula força para o grande ato do dia 30 e para a greve geral do dia 14. Nós mulheres estamos no centro disso, porque estamos dizendo que não queremos a reforma da previdência e nem essa educação submissa, subalterna e patriarcal”, disse Lourdes Simões, da MMM de Campinas (SP).