No dia 30 de maio, uma mulher negra de 51 anos, dona de um bar na capital de São Paulo, teve a perna quebrada e foi “imobilizada” tendo seu pescoço pisoteado por um policial militar. Isso ocorreu durante uma abordagem policial, e para quem assistiu ao vídeo que circulou pela internet, a intenção de sufocamento pelo PM ficou clara. Na sequência disso, mantiveram a mulher na delegacia, com a perna quebrada, sentada e sem atendimento durante toda a noite em uma sala escura.
Essa mulher chegou perto de ter o mesmo destino de George Floyd, morto aos pés de um policial, por asfixia nos Estados Unidos.
Em fevereiro, no interior de São Paulo, outro policial militar segurou uma mulher negra, grávida, pelo pescoço e depois chutou sua barriga. Outra mulher foi agredida com um cassetete pelo PM que a atendeu numa denúncia de violência doméstica, onde deveria ter prestado socorro. Ainda no mesmo mês, em Santa Catarina, uma mulher foi “imobilizada” por quatro PMs e teve o rosto cortado e a perna quebrada. O vídeo também circulou pela internet e, pelo que se sabe, os policiais continuam trabalhando como se os atos violentos fizesse parte de uma “normalidade”.
Não é novidade que as mulheres sofram violências dentro e fora de casa, nesses casos, também, por parte do Estado. Durante a colonização da América Latina e Caribe, as mulheres nativas foram tratadas como “não-mulheres”. Esse conceito foi desenvolvido pela feminista argentina María Lugones (falecida dia 14/07 deste ano, aos 76 anos). Segundo ela, existiu um sistema de categorização, onde as mulheres nativas não eram consideradas mulheres, mas “não-mulheres”. Sendo assim, não mereciam ser tratadas como seres humanos, e muito menos como mulheres.
Nesse contexto extremamente violento que estamos vivendo atualmente, podemos pensar que hoje, assim como foram sujeitadas as mulheres da América Latina e Caribe daqueles tempos, somos expostas a todos os tipos de violências, simplesmente pelo fato de existirmos.
As mulheres nas periferias, principalmente as mulheres negras, são os principais alvos desse conceito de “não-mulheres” pelo Estado, na figura da PM. Esses homens representam um Estado que também os colonizou, e se exercem um “mandato de masculinidade”, conceito trazido por Rita Segato, professora feminista argentina. Aão homens que perderam a sua subjetividade em nome da obediência, e que se valem da falta de sensibilidade, da violência, da falta de empatia, da falta de solidariedade com todas as mulheres.
Segundo o 10° Anuário Brasileiro de Segurança Pública, a polícia brasileira é a que mais mata no mundo, sendo que, em SP, mata uma pessoa a cada seis horas. Vivemos sob uma política de Estado que promove o extermínio de uma população. A maioria delas são mulheres negras e reside nas periferias. Luto, para as mães negras do Brasil, é verbo, porque precisam enterrar suas filhas e filhos a cada 23 minutos. Denunciamos e rechaçamos o racismo e despreparo que existe na polícia militar.
Nós da Marcha Mundial das Mulheres denunciamos o Estado racista que violenta e assassina todo dia o povo negro. Somos contra todas as formas de violências contra as mulheres. A vida das mulheres pretas importa! Parem de nos matar! Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!
Marcha Mundial das Mulheres
17 de julho de 2020