Em Brasília, o dia 13 de agosto foi marcado por muitas atividades: manifestação pela educação, marcha das mulheres indígenas e também pelo início da Marcha das Margaridas. O primeiro dia na Marcha das Margaridas é voltado para debates, oficinas e plenárias entre as participantes. Ao começar a tarde, a programação teve muitas atividades concomitantes. A seguir, um resumo das atividades.
Soberania Alimentar e Agroecologia
Na oficina temática Soberania alimentar e agroecologia, uma “instalação pedagógica” (com objetos que ilustram o que são os princípios agroecológicos em contraste com a indústria de alimentos envenenados que o capitalismo nos empurra) impulsionou diversas reflexões entre as mulheres.
As práticas agroecológicas foram descritas pelas participantes como um projeto para a vida. Uma vida mais saudável, pautada em relações mais harmônicas e saudáveis com a terra, a comida, com nossas companheiras e companheiros, e com a natureza. “Assim como as sementes dão vida aos alimentos, nós somos a semente de um novo mundo. Quando a gente se junta, ficamos grandes, fortes e somos capazes de muitas coisas”, disseram elas.
“O que vemos aqui é a guerra entre dois modelos. O que vemos aqui é uma guerra que tem os alimentos como armas. Precisamos romper com um contrato ideológico que nós é imposto”, afirmaram. “Viva a agroecologia e o feminismo”, bradaram todas.
Terra, territórios, maretórios e bens comuns
“Quando a mulher quilombola tomba, o quilombo se levanta com ela”. Essa frase foi muito repetida durante o Painel Temático sobre território e bens comuns, no primeiro dia de atividades da Marcha das Margaridas, em Brasília. Coordenado pela CONAQ, o espaço trouxe informações sobre o combate à violência em suas formas física, psicológica, patrimonial.
As mulheres reivindicaram o bem viver nos quilombos, que significa poder viver na comunidade, com paz e harmonia, e direito a educação não alienadora. “É a reforma agrária saindo do papel, é o combate à violência e ao racismo, é estar em um espaço onde possamos falar, é ter garantia à aposentadoria, a troca mútua entre as mulheres e a união entre as trabalhadoras e trabalhadores. Sem mar pra gente pescar, sem terra pra gente plantar não tem vida para a gente”.
Enfrentamento à violência contra as mulheres
Ontem (13), na oficina “Enfrentamento à violência contra as mulheres”, Conceição Dantas, da Marcha Mundial das Mulheres e do Centro Feminista 8 de Março, salientou que “existe no conservadorismo uma lógica de masculinidade e feminilidade opostas, quando uma é [considerada] robusta e [está] no poder e a outra é de fragilidade” e que, por isso, nossa capacidade de desnaturalizar a violência contra a mulher é muito importante nesse processo histórico de retrocessos, inclusive promovendo a auto-organização feminina.
A atividade foi encerrada com ciranda e as participantes cantando: “pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer, participando sem medo de ser mulher!”
Por previdência pública, universal e solidária! Mulheres em defesa da previdência!
Entre as atividades simultâneas da marcha das margaridas, aconteceu o tribunal de mulheres em defesa da previdência. Neste tribunal, o estado brasileiro foi para o banco dos réus, por conta da reforma da previdência.
Primeiro, apresentou-se o caso: a reforma da previdência irá prejudicar as trabalhadoras do campo e da cidade, aumentando a pobreza entre as mulheres.
Apresentaram-se depoimentos de mulheres de diversos movimentos. Pluvia, da Marcha Mundial das Mulheres contou como a juventude, em especial as mulheres jovens, serão afetadas pela reforma. Foi destacado também que a reforma da previdência faz parte de um projeto mais amplo de destruição dos direitos, como saúde e educação.
Desta forma, as mulheres mostraram o papel nefasto do Estado brasileiro no ataque aos direitos das trabalhadoras, e reafirmaram: seguiremos na luta contra a reforma da Previdência, em defesa dos nossos direitos, e iremos derrubar Bolsonaro!
Corpo e sexualidade
Na oficina, todas as participantes foram convidadas a falar e expor suas opiniões e experiências pessoais sobre os desafios que percorrem esse debate.
Sônia Coelho, da Marcha Mundial das Mulheres, que estava na coordenação da oficina disse: “Nós mulheres quando pensamos a nossa resistência e a luta, passamos no todo! Pensamos em como a sociedade controla a nossa sexualidade. A nossa sexualidade é parte do bem-viver. Nosso corpo também é para o prazer e por isso temos que pensar em nós. Em como a sexualidade é pra nós. Sempre pensamos no outro, em como dar prazer pra o outro, mas temos que tratar das nossas experiências de vidas e de como nós vamos construir a liberdade sobre nosso corpo, nossa sexualidade e sobre nossa possibilidade de amar quem a gente quiser”.
As mulheres da roda também focaram uma parte do debate sobre a legalização do aborto. “Nós mulheres da classe trabalhadora estamos morrendo e sendo criminalizadas por ter escolhido realizar um aborto. Precisamos lutar contra isso”, comentou Soninha.