11º Encontro Internacional da Marcha Mundial das Mulheres
Bilbao, 22 a 28 de outubro de 2018
Declaração final
Nós, mulheres da Marcha Mundial, reunidas em Bilbao, País Basco, no 11º Encontro com representantes de 36 países, nos reafirmamos como feministas, anticapitalistas, antipatriarcais, anticolonialistas e antirracistas em permanente marcha até que todas sejamos livres.
As lógicas do capital e da vida são absolutamente inconciliáveis. Nossas respostas, enquanto organização plural e diversa, precisam ser cada dia mais potentes, com mobilização nas ruas, junto às bases populares.
Identificamos uma reorganização do sistema capitalista que resulta em um ressurgimento do fascismo, do uso da guerra, da perda de direitos sociais e econômicos. As chamadas crises não são nada mais que justificações para os ajustes econômicos, a perda de direitos, a privatização da vida, a despossessão dos corpos e a ocupação dos territórios. As empresas transnacionais concentram cada vez mais riqueza e poder, geram destruição da natureza, violência patriarcal e expulsão de povos dos lugares onde sempre viveram. Grandes grupos econômicos controlam as cadeias de valor, desde a extração de matérias-primas até a produção e distribuição de mercadorias e serviços. As transnacionais do agronegócio produzem venenos e contaminam nossos corpos e nossas terras.
As políticas de ajuste se sustentam sobre o trabalho das mulheres, repetindo orientações já conhecidas, como a redução do salário, dos gastos públicos e o aumento do trabalho não remunerado, ao mesmo tempo em que transferem à população a responsabilidade do que chamam de crise.
Assistimos a um ataque aos governos que se diferem do sistema hegemônico propondo alternativas ao neoliberalismo e às suas formas de conceber a vida, a democracia, a economia e, enfim, a distribuição do poder e dos recursos no mundo. Neste marco, os bloqueios econômicos e financeiros se impõem como formas de controle político cujas consequências podemos classificar como genocidas e devastadoras, sobretudo, das vidas e corpos das mulheres. A militarização dos territórios, o fomento de bases militares e forças paramilitares se convertem em mais uma arma do neoliberalismo para o controle e amedrontamento dos povos.
Esta reorganização também significa um aumento da violência contra as mulheres em toda sua dimensão patriarcal, racista e colonialista, cujas manifestações mais significativas são o ataque aos territórios, aos corpos e comunidades para seu próprio controle e espoliação, o que produz grandes desapropriações, migrações, fluxos de refugiadas, tráfico de pessoas, exploração sexual, violência contra mulheres lésbicas e pessoas sexualmente diversas e militarização da vida.
Desde nossas resistências nos territórios, impulsionamos experiências políticas e econômicas que enfrentam o sistema de dominação e exploração, colocando no centro de suas propostas a sustentabilidade da vida. A construção cotidiana da auto-organização, a solidariedade, a agroecologia, a economia feminista e solidária, a defesa dos comuns e a recuperação dos saberes ancestrais são estratégias para garantir uma vida digna e para construir a autonomia das mulheres sobre o corpo, a sexualidade e uma vida livre de violência racista e patriarcal.
Afirmamos que a auto-organização das mulheres é nossa estratégia de fortalecimento como sujeitas políticas que constroem uma força mundial, em aliança com os movimentos com quem compartilhamos o desafio de transformar o mundo e garantir os direitos de autodeterminação e resistência dos povos.
Fortalecidas com a construção coletiva neste 11º Encontro Internacional, fazemos um chamado para seguir nossa marcha, participando ativamente das lutas feministas de nossos países, na construção de ações de solidariedade e em aliança com os povos e os movimentos populares.
Começamos hoje a organizar nossa 5ª Ação Internacional, que acontecerá em 2020. Reafirmamos o dia 24 de abril, data em que realizamos nossas 24 horas de ação solidária por todo o mundo denunciando o papel das transnacionais. Convocamos ao conjunto de nosso movimento político a continuar com as mobilizações para denunciar a violência que sofremos e os ataques a nossa vida e nossos territórios, que provocam migrações forçadas, tanto interiores como exteriores, e continuar construindo alternativas, desde a economia feminista, que defendam nossas redes de sustentação da vida.
Com solidariedade feminista,
Resistimos para viver, marchamos para transformar!
Bilbao, outubro de 2018.
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