Leia também em espanhol, inglês e francês no site internacional da MMM
Seguindo a decisão do 9º encontro Internacional da MMM, o dia 24 de abril se tornou uma data internacional na qual nos solidarizamos com as milhares de vidas perdidas e afetadas pela ganância das corporações transnacionais em Bangladesh.
A data foi escolhida para lembrar o desabamento do edifício Rana Plaza em Bangladesh em 2013, que matou 1138 pessoas, 80% mulheres, e feriu mais de 2500. Esse edifício abrigava fabricantes de roupas como Walmart, Benetton, H&M e C&A.
O colapso do edifício Rana Plaza não é apenas uma história local de condições de trabalho precárias, mas um momento de importância global, expondo práticas capitalistas estruturadas pelo lucro do livre mercado, que sistematicamente minam os direitos e a segurança dos trabalhadores.
Além disso, as corporações transnacionais exploram especificamente a vida, os corpos e os meios de subsistência das mulheres, destruindo suas terras e as despossuindo em todas as esferas da vida.
Este ano, estamos nos lembrando do crime do Rana Plaza à luz de uma onda ampla e generalizada de militarização e indústria bélica que foi desencadeada em todo o mundo. Essa onda está intrinsecamente ligada à exploração das mulheres trabalhadoras, pois é outra forma de ferramentas de acumalação e exploração do capitalismo, reforçando o autoritarismo e a violência contra a classe trabalhadora, as mulheres e os povos, como estamos testemunhando por meio da opressão e da tortura das mulheres no Irã e da aniquilação total da educação e da participação das mulheres na vida pública no Afeganistão.
Isso também é visto na guerra na Ucrânia e na destruição de um país inteiro e na matança e expulsão de seu povo; nos ataques sionistas às terras palestinas e no massacre diário do povo palestino; na ruína de uma terra e cultura ricas e diversificadas no Iêmen; e no controle islâmico e militar sobre Mali, juntamente com a luta russo-europeia pelo controle do país. Enquanto isso, as sanções econômicas continuam a sufocar países como a Venezuela e Cuba.
A atual onda de militarização está ocorrendo juntamente com o desenvolvimento de uma indústria de fronteiras, que aumenta as divisões sociais, econômicas e espaciais e responde às campanhas xenófobas e racistas da extrema direita. Nesse sentido, estamos vivenciando o amplo crescimento e controle de empresas militares e de segurança que fornecem equipamentos para os guardas de fronteira, tecnologia de vigilância para monitorar as fronteiras e infraestrutura de tecnologias da Informação (IT) para rastrear os movimentos da população.
Além de destruir e controlar a terra, as guerras expulsam as pessoas do lugar onde sempre viveram, negando-lhes direitos fundamentais como vida digna, moradia, alimentação, segurança física, sexual e psicológica, entre outros.
Por fim, a responsabilidade das corporações transnacionais – a mão (in)visível por trás desses horrores – também está na criação e na manutenção da atual crise climática, já que as empresas de combustíveis fósseis, farmacêuticas, de fronteiras e de vigilância, e as corporações do agronegócio e suas cadeias de valor são responsáveis pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa, pela destruição ambiental generalizada e por graves violações dos direitos humanos. Isso também é exacerbado pela exploração dos recursos naturais e seus resultados, que podem ser facilmente vistos nos ataques à soberania alimentar, no abuso dos direitos dos camponeses, na exploração da terra e dos recursos hídricos e no controle absoluto dos magnatas do agronegócio.
Dez anos após seu colapso, vemos no crime do Rana Plaza como o projeto capitalista belicista ainda está sendo atualizado. Trabalhadores, mulheres, povos, terras e, finalmente, toda a natureza, são vítimas das práticas abusivas desse sistema.
Dez anos após o crime do Rana Plaza, dizemos: não à militarização e às indústrias bélicas, não às fronteiras e aos muros, e não à exploração dos recursos naturais, dos trabalhadores, das mulheres e dos povos!
Seguiremos em marcha até que todas estejamos livres da violência do poder corporativo!
Você pode assistir ao nosso pequeno documentário, que foi produzido no encontro Solidariedade Feminista em Resistência e Construção de Alternativas ao Extrativismo, realizado entre 12 e 16 de novembro de 2018 em Maputo, Moçambique. Mulheres angolanas, brasileiras e moçambicanas compartilhando experiências e conhecimentos relacionados à resistência ao extrativismo e à construção de alternativas ao modelo extrativista em nossos territórios.
Além disso, neste vídeo você verá diferentes testemunhos de todo o mundo. Nosso esforço é contar nossas próprias histórias de luta contra a mineração, rompendo com as práticas capitalistas. As corporações transnacionais exploram especificamente a vida, os corpos e os meios de subsistência das mulheres, destruindo suas terras e desapropriando-as em todas as esferas da vida. Continuaremos a resistir contra as corporações transnacionais.