Seminário, oficinas e atos de rua marcaram a passagem da 4ª Ação pelo Cariri
Seguiremos em marcha pelo fim da violência em nossos corpos e territórios. Esse foi o mote do seminário realizado ontem (16) no Teatro Municipal Neroly Filgueiras em Barbalha-CE, como parte da 4ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres. Ceará e Rio Grande do Norte encerram a Ação Internacional no Brasil.
Pela manhã, a abertura do evento contou com uma acolhida da batucada feminista as trezentas mulheres vindas de várias partes do Ceará e representações de delegações de outros estados do Brasil. Em seguida, as mulheres foram saudadas pelas Secretárias de mulheres das entidades presentes como a UNE, a Fetraece, a Fetrace, a Coordenadoria Estadual de Políticas para as Mulheres; os movimentos parceiros como o Fórum Cearense LGBT e as mulheres do GRUNEC e a Prefeitura de Barbalha.
Nalu Faria, da coordenação nacional da Marcha Mundial das Mulheres, abriu o debate principal relatando sobre a importância da auto-organização das mulheres. “É fundamental lutar por politicas públicas para que o estado, município e o governo federal assumam a luta das mulheres, mas estas questões não serão efetivas se nós não estivermos organizadas e construindo cotidianamente novas formas de organização nas nossas comunidades, nas nossa família e inclusive no nosso país”, afirmou.
Para ela não é uma questão apenas de ir buscar o serviço quando a mulher sofre espancamento ou ameaças. “É importante que as mulheres tenham onde ser atendidas quando elas são estupradas.É importante que a gente tenha onde denunciar. Mas o mais importante é que não haja o estupro e o espancamento”, exemplificou Nalu.
Mariana Lacerda, diretora de direitos humanos da União Nacional dos e das estudantes (UNE), apontou que temos sofrido um acirramento grande na atual conjuntura “A gente vê nitidamente o efeito que isso tem sobre o corpo e a vida das mulheres. Ou não é um retrocesso a proposta de redução da maioridade penal onde nós sabemos que tem crescido o número de mulheres encarceradas por conta da política de drogas?”, pontuou.
A estudante apontou outros retrocessos, considerados como violências tal qual o Estatuto da Família, o projeto de lei que retira o atendimento às vítimas de estupro, a PEC 215, que coloca em cheque a demarcação das terras indígenas. “Tem aumentado as violações sobre os nossos corpos e territórios e é preciso que a nós estejamos muito fortalecidas e muito organizadas para fazer o enfrentamento.
Para Sarah Moreira, da assessoria de mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), é importante que as mulheres estejam atentas aos recados que os casos de violência transmitem e o que eles significam. “As mulheres são mortas porque são mulheres, porque tem a ousadia de dizerem não, porque tem a ousadia de escolherem seu parceiro”, afirmou Sarah ao citar o caso de uma jovem assassinada com 72 facadas, em Crateús, no Ceará.
Durante o período da tarde, as mulheres seguiram discutindo alternativas feministas ao enfrentamento à violência contra as mulheres. As participantes se dividiram em oficinas de Comunicação Feminista, Agroecologia e Soberania Alimentar, Marcha das Mulheres Negras, Mercantilização do Corpo e trote machista na Universidade e Diversidade Sexual e feminismo.
No fim do dia, um ato de rua percorreu as ruas do centro histórico de Barbalha para denunciar que a violência têm ceifado a vida de muitas mulheres na região. Só este ano, quinze mulheres foram assassinadas no Cariri. Ao todo, cerca de 220 mulheres foram mortas nos últimos dez anos. Barbalha é a 13º cidade, em escala nacional, com maior número de feminicídios, segundo dados do mapa da violência de 2012.
As militantes do Ceará seguiram para Mossoró onde participam, durante todo o sábado (17), da Caravana Feminista Agroecológica e Cultural.