Desde o dia 25, o povo de Minas Gerais está vivendo um pesadelo resultante do rompimento da barragem da Vale no Córrego do Feijão, em Brumadinho.
Os movimentos populares estão presentes, acolhendo as pessoas e articulando-se com os órgãos públicos para garantir os direitos dos atingidos e atingidas. Nesta última terça-feira, conseguiram afastar a Vale do acesso à lista e cadastro das pessoas, trabalho que ficou por conta dos órgãos públicos. “Foi uma importante vitória, pois já tínhamos visto outras situações onde a empresa utilizava esses dados para deixar de ressarcir as famílias”, aponta Bernadete Monteiro, militante da Marcha Mundial das Mulheres.
Relatórios já haviam alertado para os riscos na estrutura da barragem e para a necessidade de manutenção, pontos que foram ocultados dos relatórios seguintes e não foram realizados. A Vale é, hoje, uma empresa criminosa, responsável por centenas de vítimas, entre mortes, desaparecimentos, famílias que perderam suas casas. As equipes de resgate seguem buscando sobreviventes nas áreas de risco. Além do Córrego do Feijão, mais duas regiões foram bastante atingidas pela lama tóxica, e em pouco tempo alcançará outros rios. É um crime contra a natureza e contra a humanidade de proporções ainda não vistas.
Mobilizações
Junto à Frente Brasil Popular, os movimentos têm buscado organizar as demandas políticas e denunciar as privatizações e a mineração predatória. Segunda-feira, dia 28, aconteceu uma plenária em solidariedade às atingidas e atingidos, com a presença de parlamentares mineiros. “A mineração um projeto que faz parte da história desse estado, mas que em tempos de crise se exacerba. E, após a Vale ser privatizada, fica mais evidente que aumentou a exploração com foco no lucro, em nenhum momento preocupando-se com a segurança dos trabalhadores e das comunidades. Ficou evidente no crime da Vale-Samarco-BHP em Mariana e, agora, fica evidente também nesse crime de Brumadinho”, sintetizou Bernadete.
Estão sendo construídas comissões para organizar aqueles que querem contribuir nesse processo de solidariedade. A partir daí, já existe um calendário de mobilização. Uma das ações foi uma reunião pública para viabilizar uma CPI das mineradoras no Estado. A reunião contou com bastante participação popular, representatividade de movimentos e entidades. “Tem tudo para se colocar como um espaço importante para a gente não só fazer a denúncia desses crimes que a Vale e outras mineradoras têm feito em Minas Gerais e em outras partes do Brasil, mas também para apresentarmos as perspectivas de um projeto popular para a mineração, em que a vida esteja no centro, e não o lucro”.
Em Brumadinho, também aconteceu uma plenária da Frente Brasil Popular dos moradores locais. O espaço foi importante para organizar os posicionamentos e não deixar os atingidos e atingidas à mercê da empresa.
Quinta-feira, em Belo Horizonte, na Praça da Liberdade, aconteceu um ato pelo sétimo dia da morte desses trabalhadores e trabalhadoras. Estavam presentes 500 pessoas, que empunharam bandeiras e cartazes denunciando a responsabilidade da Vale pelas quase 100 pessoas mortas pelo rompimento da barragem. Uma cena de teatro homenageou cada uma das vítimas e, ao final, foram deixadas velas em frente ao Memorial da Vale.
E hoje, sexta-feira (01), mais uma manifestação: em frente à Assembleia Legislativa no momento da posse de novos deputados, os movimentos fizeram um ato exigindo a instauração da CPI que investigará a mineração no estado.
Calendário:
25/02 – proposta de Ato Nacional marcando um mês do crime da Vale.
08/03 – Dia Internacional de Luta das Mulheres (o ato ocorre por todo o país; em Minas Gerais, o mote será “Mulheres em luta: o lucro não Vale a vida”)
14/03 – Dia Nacional das Lutas contra Barragens, pela Água e pela Vida. Um ano da morte de Marielle.
06/05 – Dia nacional de luta contra a privatização da Vale e pela sua reestatização.