As companheiras da MMM do estado do Amazonas compartilham a situação em que o estado se encontra e denunciam as atrocidades que Bolsonaro, seu governo federal e o governo estadual vem cometendo contra a população durante o colapso da saúde por conta da pandemia da covid19, empurrando-as para a morte:
Escute os áudios ou leia a seguir:
Fátima, cabocla da MMM Parintins:
Nós, comunidade cabocla do Norte, estamos condenadas à morte. Os protocolos fascistas do governo federal decretam o genocídio sobre a Amazônia. O memoricídio cultural silenciou os nossos saberes e práticas tradicionais populares, de fazer saúde, de promover a vida.
Vem o agronegócio e mata, envenena a nossa fauna, a nossa flora e as consciências das populações vulneráveis ao fascismo governista. Nulidades políticas. Se fazem heróis sobre a analfabetização das massas e a exploração de desvalidos. E a última: o protocolo da morte reduz a 20% as doses de vacinas destinadas ao interior. Assim o governo decreta o massacre às nossas vidas. Ecoam na floresta clamores indignados por justiça. São mais de 6.600 vidas indígenas, caboclas, negras, asfixiadas pelo democracídio brasileiro.
Reajam companheiros e companheiras! Unamos nossas flechas, nossos feitiços! Digamos Não à cruz e ao fuzil de Bolsonaro, de Wilson Lima e de seus aliados. Reinventemos nosso Amazonas com a coragem e a ousadia dos cabanos. Basta de violência! É o grito das caboclas da Marcha Mundial das Mulheres na Amazônia.
Elisiane, professora, militante da MMM de Manaus:
Sou a professora Elisiane, aqui de Manaus, do estado do Amazonas, e da Marcha Mundial das Mulheres. Estou aqui para relatar um pouco do problema, dessa situação horrível que nós estamos atravessando. Nós estamos atravessando uma situação gravíssima, de crise sanitária no estado, consequência da segunda onda da covid-19. Esta situação foi causada pela irresponsabilidade do governo federal e do governo estadual, que banalizaram a gravidade da pandemia.
O presidente desde o início, como já sabemos, tratando como uma “gripezinha”. E o governador, quando foram diminuindo os casos da primeira onda, foi flexibilizando todos os serviços e logo tudo voltou ao normal. O comércio estava funcionando normal, transporte público coletivo superlotado, sem qualquer medida de segurança, as escolas do estado voltaram a funcionar normal. Bares. tudo estava funcionando como se não tivesse mais pandemia, como se já tivesse tudo acabado.
E aí a consequência. Agora estamos com o sistema de saúde do estado totalmente colapsado. Ou seja, sem leitos nos hospitais, com a falta de oxigênio, profissionais da saúde exaustos. A gente tem relatos de colegas profissionais de saúde que ficam três dias sem descanso, virando plantões, porque faltam profissionais de saúde. E por conta de que as unidades de saúde, os principais hospitais da cidade, da capital, estão 100% lotados, alguns pacientes estão sendo transferidos para outros estados. E pela falta de oxigênio, alguns pacientes estão morrendo nas filas dos hospitais, uma situação gravíssima. Também há relatos de profissionais de saúde ter que escolher quem vai morrer e quem não vai. Tudo isso causado pela falta de planejamento do governo do estado e pela incompetência, pela falta de seriedade do governo, dos governos, com a vida das pessoas.
Também por conta dessa crise tivemos uma rede de solidariedade, de artistas que se mobilizaram para doar cilindros e doar oxigênio. E também tivemos ajuda da Venezuela, que doou 136 mil litros de oxigênio, que chegaram ontem à capital.
Demorou algum tempo para o governador tomar providências. Na verdade ele começou a tomar providências em relação ao isolamento social, a medidas mais severas, quando o caos já estava instalado. Ou seja, na semana passada que ele instalou o toque de recolher. Agora a maioria dos serviços pararam, só ficaram os serviços essenciais.
Essa semana começaram a chegar as primeiras doses da vacina. Iniciaram ontem a vacinação para o grupo prioritário. Mas aí a gente já tem denúncias nas redes sociais de desvio da vacina por parte da prefeitura, de estar privilegiando pessoas das elites, das famílias ricas da cidade, e isso está causando uma indignação da população nas redes sociais.
É uma situação muito difícil e a gente precisa de toda a ajuda, precisamos de energias positivas porque não sabemos quando isso vai se normalizar.
No âmbito da prefeitura, a primeira coisa que o antigo prefeito fez foi desativar o hospital de campanha assim que começaram a diminuir os casos de morte e de contato. Agora, depois do caos instalado, foi que voltaram a reativar, há mais ou menos duas semanas atrás, o hospital de campanha. E o atual prefeito, em vez ir em busca de agilizar, de cobrar a urgência da vacina e de fazer planejamentos para ajudar a população, a primeira coisa que ele fez foi distribuir a invermectina. Um gestor que se mostra totalmente despreparado e omisso com a vida das pessoas.
Diante de todo este caos que nós estamos passando, o que nós estamos precisando com urgência aqui no Amazonas em primeiro lugar é vacina para todos, um plano emergencial para ajudar as famílias que vivem da informalidade e as pessoas que estão desempregadas, de EPIs e de melhores condições de trabalho para os profissionais da saúde.
Paola, MMM Manaus Amazonas:
Companheiras, eu me chamo Paola. Sou da cidade de Manaus, estado do Amazonas. Este vídeo é um pequeno relato do que tem acontecido na cidade, no estado. É um vídeo muito difícil de ser gravado porque o que tem acontecido é que a gente tem perdido inúmeros companheiros e companheiras e pessoas e amigos. E tem sido desesperador, porque tudo isso poderia ter sido evitado se nós tivéssemos uma política efetiva do estado, do governo, da Presidência de um plano de vacinação, de uma proposta mais real de um auxílio emergencial para as pessoas.
Mas a gente não teve isso. A gente teve um governo que negou a Ciência, a gente teve um governo que, um dia antes de faltar oxigênio para a capital inteira, o ministro da Saúde esteve aqui para empurrar o kit covid para as pessoas, Dizer que cloroquina, invermectina e azitromicina curavam covid. Então a gente teve uma política que foi pautada na violência e que hoje reflete violência.
A gente tem um estado extremamente grande e com muitos interiores. E o que a gente mais tem são pessoas relatando situações de fome, de desemprego, de carestia mesmo, de não ter nada. E a gente não tem uma política, uma política da prefeitura, uma política do estado, uma política da presidência para que essas pessoas tenham o mínimo de dignidade humana. Para que essas pessoas sobrevivam à pandemia.
Eu acho que o que é pior para a gente é saber que tudo isso poderia ter sido evitado, saber que a gente poderia já estar sendo vacinado. Hoje a gente já está sendo, os médicos da linha de frente, e mesmo assim em Manaus temos inúmeros políticos da oligarquia local furando a fila da vacina. E eu acho que o cenário do estado é esse. É um cenário de elites, de famílias que não respeitam o povo, que não se importam com o povo. Que se pudessem deixariam o nosso povo para morrer.
A gente segue em luta e a gente segue em marcha. Porque a gente não pode deixar essas denúncias ficarem só nas manchetes dos jornais. Elas precisam ir para as ruas, elas precisam ir para a prática de que a gente precisa mudar, a gente precisa tirar essas pessoas que estão aí. Porque elas vão continuar exterminando o nosso povo, elas não estão preocupadas com o nosso povo. Ou a gente revida o que eles estão fazendo com a gente ou eles vão continuar massacrando toda uma população em nome do negacionismo científico, em nome de ideologia política, em nome de uma política que quer ver a classe trabalhadora na miséria para explorar esta classe. E matar as mulheres. Enfim, uma política racista, uma política lgbtfóbica, todas essas questões que a gente já conhece e já debate. É isso. Nós seguimos em marcha.