Capa / Notícias / Formação feminista: A MMM Brasil na Escola internacional de facilitadoras Berta Cáceres em Honduras

Formação feminista: A MMM Brasil na Escola internacional de facilitadoras Berta Cáceres em Honduras

Foto: Vanessa Ordoñez – GGJ

Entre os dias 05 a 09 de agosto de 2024 aconteceu no Centro ECOSOL em Honduras mais uma edição para facilitadoras da Escola Internacional de Organização Feminista Berta Cáceres – IFOS. Previamente a esta edição da escola foi realizada um encontro preparatório na Guatemala, em maio deste ano.

A Escola reuniu militantes da Marcha Mundial das Mulheres de vários países e também organizações aliadas e tem como foco a formação de facilitadoras. Cerca de 80 pessoas de 19 países, falando cada uma em sua língua materna graças ao apoio de equipe de justiça linguística. Assim os debates também fortaleciam o intercâmbio entre as diferentes formas de organizar as lutas das mulheres. 

A Coordenação Nacional do Brasil foi representada pela companheira Adriana Vieira (RN), da Coordenação Nacional . Os países presentes nesta edição da escola foram: África do Sul, Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, El Salvador, Equador, Estados Unidos, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Peru, Porto Rico, Quênia, República Dominicana e Uruguai. Um momento importante porque a Escola cria espaços de debates intensos e muitas trocas para fortalecer o feminismo popular internacionalista, anticapitalista e antirracista ao redor do mundo para fortalecer nossas agendas.

A escola iniciou com uma mística em homenagem a Berta Cáceres, militante feminista hondurenha, vítima da criminalização da luta, assassinada em 2016 e Nalu Faria, militante feminista brasileira que faleceu em 2023. Suas histórias são convocatórias para continuarmos em resistência e luta até que todas sejamos livres.

O primeiro dia da escola foi dedicado a fazer uma introdução das ferramentas políticas e o funcionamento da escola, que estão fundamentadas na educação popular feminista e constroem autonomia das mulheres enquanto sujeitos coletivos. Em movimento é possível construir alternativas anti sistêmicas que com capacidade de gerar esperança e condições para respostas estruturais para transformar o mundo. Dentre as ferramentas e estratégias políticas da escola está a construção da comunicação popular, numa perspectiva de nós mesmas construirmos nossas narrativas de luta. Tendo a mística revolucionária enquanto elemento importante das nossas lutas e processos de formação.

Nos dias seguintes foram realizados debates sobre o sujeito político feminista, enfatizando a pluralidade, a criação de consciência sobre os sistemas de opressão e visão crítica sobre a leitura da realidade, com construção de alternativas para desmantelar esses sistemas.

Para dialogar com algumas participantes sobre suas experiências e histórias de vida a partir da participação na edição 2023, as companheiras usaram da metodologia de uma “Berta Cáceres TV”. As participantes responderam questões sobre a experiência após a volta da escola aos seus territórios, pensando nos impactos que a IFOS possibilitou. Também sobre como a escola contribui para fortalecer a atuação de cada organização.

Discutimos as contribuições das várias frentes de luta do feminismo, seja o feminismo socialista, feminismo negro abolicionista, feminismo sindicalista, feminismo decolonial e o feminismo comunitário. Nesse sentido, foi discutido que todos aportam elementos importantes para o fortalecimento da luta das mulheres nos vários continentes. O exercício demonstra as identidades diversas e plurais do movimento feminista. Mostrou que temos raízes em várias histórias de lutas e resistências, onde se destacam a liderança de mulheres e coletivos que tem contribuído para a multiplicação do feminismo. O feminismo que nos junta está em marcha por um mundo de igualdade e direito para todas as pessoas. Um desafio e uma tarefa urgente é recuperar memórias e genealogias do feminismo que é diverso e plural e com especificidades em cada território. 

Realizamos ainda um debate acerca do papel e desafios em ser facilitadora de processos de formação política. Neste debate destacamos que o papel da facilitadora na educação popular é facilitar o debate e a reflexão política de forma coletiva e consensuada. Além disso, é fundamental que as facilitadoras tenham uma visão da realidade e mantenham o compromisso de mudar com o coletivo.

Para fazer uma leitura da realidade de diferentes territórios das participantes da escola foram realizados debates acerca dos contextos em diversas regiões do mundo, que contou com a participação presencial e online de militantes da Marcha Mundial das Mulheres. As militantes destacaram em seus territórios: fundamentalismo religioso, feminicídio, avanço e ofensiva do capitalismo, migrações forçadas, xenofobia, militarização dos territórios, racismo, a continuidade de processos de colonização e mesmo recolonização em diversos territórios e a mercantilização da vida. 

Mesmo com toda essa ofensiva, os movimentos sociais continuam sua luta e o trabalho nos territórios, a partir da articulação entre si e a articulação entre movimentos como eixo comum entre todos e que contribui para o fortalecimento da luta.

¡Berta Vive, la lucha sigue! ¡Nalu vive, la lucha sigue!

Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!

Confira o vídeo com alguns registros dos dias da formação:

Sobre @admin