A Marcha Mundial das Mulheres (MMM) manifesta sua solidariedade a todas as mulheres do Rio Grande do Sul, que vêm enfrentando a maior catástrofe ambiental de sua história. Mais de 397 municípios do estado estão em situação reconhecida de calamidade pública. Até quinta-feira, 9 de maio, havia um total de 67.542 pessoas em abrigos, 164.583 desalojadas, 107 mortos, 374 feridos e 136 desaparecidos. A falta de água atinge cerca de 452 mil pessoas (16% da população), há 379,3 mil pontos sem energia elétrica (cerca de 17% da população) e 66 municípios sem telefonia e internet. As aulas estão suspensas e sem previsão de retomada em vários municípios, incluindo a capital, Porto Alegre.
Segundo os relatos recebidos até o momento, nossas companheiras da MMM no estado estão em segurança. Algumas perderam tudo o que tinham; outras tiveram que deixar suas casas como medida de segurança e estão alojadas em casas de familiares ou de conhecidos ou em cidades do litoral, e outras seguem em suas residências, ainda que não tenham água, internet ou energia elétrica. Muitas estão envolvidas ativamente em ações de solidariedade nas cidades de Porto Alegre, São Leopoldo e Santa Maria. Companheiras de Pelotas e Rio Grande se organizam frente ao avanço da água que já está inundando também essas cidades.
Em Porto Alegre, capital do estado, a iniciativa da Marcha Mundial das Mulheres, chamada Periferia Feminista, que acontece no Morro da Cruz, tem distribuído cerca de 900 marmitas por dia, além do atendimento com kits de higiene e roupas para as pessoas que continuam a chegar para se abrigar em casas de suas famílias ou de amigos moradores do Morro. O coletivo estava prestes a inaugurar sua cozinha solidária / ponto popular de alimentação e agroecologia quando aconteceu a emergência climática. As contribuições para essa iniciativa podem ser feitas pelo pix: [email protected].
A cozinha do Morro da Cruz tem funcionado como suporte à cozinha solidária da Azenha, organizada pelo MTST, em aliança com a MMM, Amigas da Terra, MAB e MPA, que já está produzindo diariamente mais de 3.000 marmitas para os desabrigados. Para mantê-la, são necessários insumos diversos, bem como água potável. Essa aliança pretende espalhar ainda mais cozinhas solidárias pela capital, região metropolitana e interior, especialmente o Vale do Taquari, uma das regiões mais atingidas do estado.
Ainda em Porto Alegre, há companheiras da juventude trabalhando também na arrecadação, organização e transporte de roupas e outros itens, como produtos de limpeza e de higiene pessoal, roupas de cama, cobertores, colchões e vermífugos, para locais que estão recebendo famílias desabrigadas, incluindo o Morro da Cruz e famílias guaranis da Lomba do Pinheiro e outras aldeias indígenas, em apoio ao Centro de Referência Indígena. As doações podem ser entregues na rua João Guimarães, n. 337 – Santa Cecília, no horário das 9h às 18h.
Já em Caxias do Sul, a Marcha Mundial das Mulheres participa e constroi a iniciativa da Saboaria Popular Las Margaritas, que produz barras de sabões, sabonetes e sabões líquidos que estão sendo doados às famílias atingidas pelas chuvas. Las Margaritas, cujo nome foi inspirado na lutadora Margarida Maria Alves, são um coletivo de mulheres no campo da Economia Solidária e Feminista, organizado na iniciativa de trabalho artesanal, cooperado e autogestionário em torno a produtos naturais, ecológicos e medicinais. Até o momento, o grupo já produziu e distribuiu mais de 400 sabões feitos pelas mulheres do coletivo e voluntárias, além de outros materiais de higiene. Há também uma campanha para a compra de insumos para ampliar a produção de sabão. As doações podem ser em qualquer valor. O pix é 41040428000145. O endereço do grupo no instagram é: @lasmargaritas.saboaria
Colocar a vida no centro da política
O momento é de solidariedade, união e foco no resgate e atendimento das pessoas sobreviventes. Porém, não há como fechar os olhos para os diversos fatores que geraram o caos atual, como as políticas negacionistas do aquecimento global e da crise climática e políticas neoliberais de desmonte, privatizações e terceirizações de serviços públicos como o de drenagem das águas pluviais, esgotamento sanitário e saúde, entre outras.
Nesse contexto, observamos, mais uma vez, o aumento da sobrecarga de trabalho das mulheres, convocadas a desenvolver alternativas frente à fome, à perda de meios de vida e moradia, ao surgimento de doenças, à violência machista e à crise ambiental.
Agradecemos a mobilização solidária contínua de todo o país e saudamos as ações do governo federal e o trabalho articulado com as esferas estadual e municipais. Ao mesmo tempo, reivindicamos dos três níveis de governo que sejam colocadas em prática ações estruturantes de combate à pobreza, de garantia do direito à alimentação e de apoio aos cuidados, uma responsabilidade que não deve ser só das mulheres, mas do Estado e de toda a sociedade por meio de políticas públicas permanentes de atenção à saúde, educação e assistência social.
A Marcha Mundial das Mulheres segue mobilizada em ações solidárias e na luta por políticas públicas estruturais que enfrentem a pobreza e a violência na perspectiva de construção de uma sociedade em que a sustentabilidade da vida esteja no centro das políticas.
Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!
Resistimos para viver, marchamos para transformar!
11 de maio de 2024