MMM reúne mais 160 mulheres em plenária nacional de organização da 6ª ação internacional

03/06/2025 por

Marchamos contra a Guerra e o Capitalismo, por Soberania dos Povos e pelo Bem-Viver!

A Marcha Mundial das Mulheres realizou no dia 10 de maio de 2025, uma Plenária Nacional de Organização da sua 6ª Ação Internacional. A atividade aconteceu em formato virtual e reuniu 165 mulheres de 16 estados do Brasil:Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espirito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe.

Também contou com a presença de integrantes do CI Américas, Alejandra Laprea (Venezuela), e representantes de 13 movimentos aliados que fizeram intervenções ao longo do encontro:  ALBA Movimentos, Jornada Continental Pela Democracia e Contra o Neoliberalismo, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento Negro Unificado (MNU), Frente Brasil Popular, Central dos Movimentos Populares (CMP), Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), Movimentos dos Trabalhadores por Direitos (MTD), Diretoria de Mulheres da Associação Nacional de Pós Graduandos (ANPG), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC).

A mediação do encontro foi realizada por Ana Priscila Alves (RJ) e Renata Reis (SP), da Coordenação Executiva da MMM Brasil. Os objetivos da atividade eram de socializar o acúmulo político da MMM nos 4 eixos da 6ª Ação Internacional; relembrar as atividades que já foram organizadas e divulgar o calendário das próximas atividades do ano.

Além disso, foi um momento de elaboração coletiva sobre os acúmulos políticos e convidar os movimentos e organizações aliadas a participarem do processo, se acercar e mobilizar juntas nos diversos territórios, ruas, redes e roçados, na luta cotidiana com o nosso movimento que constrói o feminismo popular, com a ideia de fazer avançar a luta e elaborar sobre as nossas alternativas frente ao capitalismo patriarcal e racista. 

No início da sessão, o coletivo de comunicadoras exibiu um vídeo relembrando as atividades realizadas até o momento.

Como compartilhou Ana Priscilla (RJ) a MMM tem como tradição política apresentar a denúncia, mas anunciar o projeto político do movimento em suas ações internacionais. Isso também se dá a partir dos 4 eixos da ação: 1) Defesa dos bens comuns contra as empresas transnacionais; 2) Economia feminista baseada na sustentabilidade da vida e na soberania alimentar; 3) Fim da violência contra as mulheres, autonomia sobre os corpos e sexualidades; 4) Paz e desmilitarização.

Ao longo da história do movimento, algumas Ações Internacionais aconteceram de forma centralizada, outras, descentralizadas. A 6ª Ação combina esses dois elementos, unindo as lutas e nos unindo presencialmente, mas também enraizando nos territórios, conectando a lógica do local com o global, para que cada território possa se mobilizar, fortalecer e avançar no internacionalismo e na compreensão que a nossa luta conecta as mulheres ao redor do mundo, até que todas sejamos livres.

As atividades referentes a cada eixo foram apresentadas por representantes dos Estados envolvidos nas atividades.

O 1° eixo, Defesa dos bens comuns contra as empresas transnacionais foi apresentado por Adriana Vieira, do Rio Grande do Norte recuperou a agenda de lutas da MMM no tema e as atividades que envolvem o eixo até o momento. O eixo está diretamente ligado a data do 24 de abril, Dia de Solidariedade Feminista Internacional contra o poder das transnacionais. Como contou Adriana, relacionamos o tema dos bens comuns com as empresas transnacionais porque elas prosperem com sua exploração, seja dos nossos territórios, do nosso trabalho, do nosso corpo ou da natureza. Nesse processo de exploração, as transnacionais se juntam ao Estado numa aliança forte para que essas empresas continuem lucrando. Podemos ver que quando megaprojetos chegam nos locais, seja de mineração, seja de produção de energias ditas renováveis, os estados acolhem as empresas. 

Janaína (Frente Brasil Popular) falou do papel  fundamental da MMM em levar a pauta feminista em espaços mistos e do esforço de construção de unidade que a MMM tem desempenhado ao nível dos  estados, no cenário nacional e internacional. Mazé Morais (CONTAG) também falou da conexão e da aliança histórica entre MMM e a construção da Marcha Margaridas. Ivana  Leal (MNU) reafirmou a aliança entre os movimentos, lembrando que todas as lutas devem se articular pelos direitos das mulheres, contra o racismo, contra o capitalismo e pelo bem viver.

O 2° eixo,  Economia feminista, baseada na sustentabilidade da vida e na soberania alimentar, foi apresentado pela companheira Karina Morais, de Minas Gerais. O conceito de economia feminista está sempre em disputa e precisamos recolocar o seu sentido político nos lugares onde atuamos. Entendemos que a economia feminista é a resposta, a estratégia e a proposta das mulheres frente ao sistema econômico dominante que, pautado pelo mercado, prioriza o capital e não a vida. Nesse sentido, questionamos e desafiamos as divisões e hierarquias entre a natureza e cultura, entre trabalho público e privado, entre trabalho produtivo e reprodutivo, e destacamos a importância mesmo do trabalho que sustenta a vida.  É a partir da economia feminista que a gente se contrapõe ao capitalismo, ao patriarcado, ao colonialismo, ao racismo e a todas as formas de dominação, propondo uma transformação radical na economia e na vida das mulheres.
 Buscamos desmantelar um sistema que explora as mulheres, a natureza, os povos do Sul global e as trabalhadoras e os trabalhadores.

Neste momento Andreza Romano (CMP) fez uma saudação lembrando a atuação e conexão das lutas das mulheres de vários estados contra carestia, contra a fome, contra a violência. Marluce Lopes (CMP) também ressaltou a importância da luta por moradia digna como outra reivindicação fundamental para a vida das mulheres e que se conecta com a estratégia política da Economia Feminista da MMM. Sonia Mara (MAB) saudou a aliança do MAB e MMM na luta para libertação de todas as mulheres, reforçando a centralidade da classe trabalhadora como o sujeito que pode transformar estes sistemas, com organização, com formação e luta.

O 3° eixo desta ação é sobre a luta pelo fim da violência contra as mulheres, por autonomia sobre os corpos e sexualidades, apresentado por Maria Fernanda Marcelino, de São Paulo. Neste eixo conectamos o debate dos nossos corpos, seja na luta pela legalização do aborto, mas também de superação da violência, de construção de autonomia. A violência machista, os feminicidios e tantas outras formas de violências são resultados do patriarcado, do capitalismo, do racismo, colonialismo.  Nossa visão para acabar com a violência contra as mulheres é que é necessário mudar o mundo e para mudar o mundo é necessário mudar a vida das mulheres. Nossa perspectiva de entender que não se trata de ação isolada, de situações e soluções únicas, mas um sistema que oprime as mulheres e que para oprimir precisa violentar. Neste eixo defendemos a legalização do aborto, para defender a liberdade de expressão da sexualidade, da identidade de gênero de cada mulher, de cada pessoa no mundo.

Luiza Carolina do GT de Mulheres da ANA, ressaltou a aliança com a MMM, e como a 6ª Ação é importante como resposta à conjuntura internacional, a ideia de movimento social internacionalizado precisa ser fortalecida para superar as crises globais, o fortalecimento da economia feminista no debate da produção das mulheres e o movimento agroecológico. Regina (MTD e Secretaria do Capítulo Brasil da Alba) comentou a importância de fortalecer o internacionalismo das nossas organizações e o compromisso de atuar em aliança na luta por uma vida digna para todas as mulheres, repensando os cuidados e valorização dos trabalhos das mulheres. Renata Sapucaí (ANPG) também falou sobre como o programa político da MMM é importante para a produção de ciência e conhecimento de e para a classe trabalhadora, o que passa também pelas apostas politicas do feminismo popular, nas denúncias e também propostas. Por fim, Melissa Vieira (CONTAG) recém empossada coordenadora da Marcha das Margaridas, enfatizou da aliança histórica com a MMM e o fortalecimento das mulheres do campo, das florestas e das águas, e na luta pelos territórios, com agricultura familiar e agroecológica.

O 4º eixo Paz e desmilitarização foi apresentado por Carolina Peterli e Ingrid Figueiredo (Rio de Janeiro) e Rosani (Paraná). Neste eixo o tema é entendido nesse momento como a pauta de construção de paz para as mulheres (situação na Palestina), mas também como o avanço da lógica da militarização da vida, nas nossas periferias, no campo e na cidade, assim como da militarização contra as nossas companheiras que lutam – temos visto aqui no Brasil uma série de ataques aos assentamentos do MST.  Os processos de militarização adentram uma série de outros temas nossos como o enfrentamento às transnacionais e a indústria das guerras. Não há o projeto de poder das empresas transnacionais e do capitalismo, em sua versão mais violenta, sem a dinâmica da militarização dos territórios, vidas e corpos das mulheres.

O feminismo da MMM aposta em uma outra lógica, a de capacidade de ação das comunidades, dos indivíduos, das mulheres. É justamente esse padrão e essa lógica patriarcal que questionamos ao apontar a cultura da militarização, a cultura das guerras, a cultura do cerceamento dos nossos direitos de ir e vir, de viver a cidade, de ter um transporte público decente, de ter iluminação na nossa rua. Reforçamos que a solidariedade feminista é solidariedade política, à partir da nossa visão de mundo, do que a gente acredita como uma nova sociedade baseada em laços não hierárquicos mas mais horizontais.  A sobrevivência e existência das mulheres palestinas sob ataques desafia essa lógica que Israel está tentando impor aquele território. Assim, aumentar o nosso formigueiro é uma das nossas saídas, fazendo com que essas resistências locais tenham mais visibilidade; mas também estimular a criação e ampliação das nossas redes, e mostrar como nossas práticas e formas de organização vão constituindo um quadro de ação de repertórios políticos que pode ser usado pra fortalecer as nossas experiências.

Após a apresentação dos eixos e suas atividades, Renata Reis (SP) apresentou uma síntese do calendário proposto de atividades que está em construção. Também foi destacado que que atividades nacionais virtuais acontecerão cada mês, por cada eixo. Assim, em junho acontecerá a nossa primeira atividade nacional virtual sobre o Eixo 1.Através da 6a Ação, temos o objetivo de construir uma plataforma política a partir da síntese das atividades locais e nacionais que estamos articulando, para ir construindo, renovando e reposicionando a nossa política feminista contra o capitalismo patriarcal e racista.  

As atividades previstas no âmbito da 6ª Ação são conectadas com ações que já construímos nos nossos territórios, e que trazemos com maior incidência, através de grandes mobilizações e dias de luta, como perspectiva de processo. Assim, temos por objetivo a construção da síntese pós-Ação à partir dessas ações nos Estados – por exemplo em forma de uma publicação – para reverberar em formações e contribuir com a síntese e a memória da Marcha Mundial das Mulheres.

A plenária foi encerrada com um poema de Lavynia Ávilla, criado durante uma formação feminista no Ceará e recitado por Camila Paula (RN).

Produção do Viver
Lavynia Ávilla

Ela acorda cedo, já tem um novo dia, Seis por um, mas quem cuida da cria? O relógio corre, mas não paga o cuidado, Enquanto o patrão lucra, o seu tempo é roubado.

Divisão sexual, trabalho invisível, O peso do mundo, nos ombros sensível. No lar ou na rua, é tudo exploração, Mas ela resiste, levanta a questão.

Produção do viver, quem paga a conta? Quem limpa o chão e quem segura a bronca? Enquanto o lucro sobe, a vida cai, O feminismo socialista grita: não dá mais!

Neoliberalismo diz que é meritocracia, Mas ela vê o jogo, é só hipocrisia. O cuidado é serviço, mas não é salário, E o “6×1” é um pacto autoritário.

Divisão sexual, trabalho invisível, O peso do mundo, nos ombros sensível. No lar ou na rua, é tudo exploração, Mas ela resiste, levanta a questão.

Produção do viver, quem paga a conta? Quem limpa o chão e quem segura a bronca? Enquanto o lucro sobe, a vida cai, O feminismo socialista grita: não dá mais!

Socializa o cuidado, quebra a corrente, Autogestão, luta e voz presente.

A revolução começa no lar, A força da mulher vai desabrochar.

Produção do viver, quem paga a conta? Quem limpa o chão e quem segura a bronca? Enquanto o lucro sobe, a vida cai, O feminismo socialista grita: não dá mais!

O feminismo socialista grita: não dá mais! O feminismo socialista grita: não dá mais!

*Leia aqui o texto base completo para 6ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres

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