Mulheres da MMM Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba debatem os impactos das energias renováveis e as alternativas feministas populares no Dia de Solidariedade Feminista Internacional contra as Transnacionais 

28/04/2025 por

O 24 de abril compõe o calendário de lutas feministas da MMM que neste ano está em sua 6ª Ação Internacional

Na última quinta-feira, 24 de abril, Dia de Solidariedade Feminista Internacional contra as Empresas Transnacionais da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) foi realizado, na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), em Mossoró, uma atividade do calendário da 6ª Ação Internacional com o seminário “Energia para o bem viver: por territórios feministas e soberanos”. A atividade reuniu mulheres de diversos municípios do RN e de estados vizinhos, Paraíba (PB) e Ceará (CE), marcando um espaço potente de denúncia, articulação e proposição política diante dos impactos causados pelos grandes empreendimentos de energia eólica e solar nos territórios.

A programação teve início com uma mística de abertura, onde mulheres compartilharam símbolos de seus territórios e bandeiras de luta, expressando por meio da poesia a força da resistência e da ancestralidade. Em seguida, a mesa de debate trouxe reflexões fundamentais sobre as energias renováveis, o capitalismo e as alternativas construídas a partir dos saberes e experiências feministas.

A socióloga e militante da MMM, Tica Moreno, destacou a importância do dia 24 de abril como símbolo de enfrentamento às transnacionais – em memória ao crime ocorrido em 2013 em Bangladesh, no desabamento do edifício Rana Plaza, onde morreram mais de mil trabalhadoras. Segundo Tica, “as transnacionais seguem com a mesma lógica predatória em diferentes territórios, poluindo, ocupando e violentando, inclusive com a chegada dos megaprojetos de energia eólica e solar que seguem a mesma forma de atuação”. Ela reforçou que a luta coletiva da Marcha não é apenas para remediar os impactos, mas para transformar estruturalmente o modelo de desenvolvimento, articulando alternativas como a agroecologia, cozinhas coletivas e lavanderias populares, em defesa da sustentabilidade da vida.

Tatiana Muniz, da MMM em Tibau, no litoral do RN, relatou a resistência da comunidade Vila Nova, fortemente impactada pelas linhas de transmissão. “As empresas não dialogam, não geram empregos para a comunidade, não barateiam a energia. Pelo contrário, desestruturam a organização comunitária e impõem conflitos internos”.

A geógrafa e professora Ana Luiza, da UERN, alertou para a falsa ideia de que o semiárido é um território vazio, desértico e disponível, narrativa que favorece a apropriação pelas empresas. Ela destacou que “a caatinga é parte da solução para a crise climática”, pois mesmo sem folhas, captura carbono. Defendeu o uso de estruturas já existentes, como os telhados das universidades, para a instalação de placas solares populares.

Na fala da deputada estadual Isolda Dantas, foi denunciada a entrega de mais de 5% do território do RN a empresas transnacionais, destacando que mais de 50% dessas empresas são estrangeiras. Ela apontou que o modelo atual exclui as comunidades do debate e se utiliza de estratégias para burlar a legislação, como o fracionamento dos parques eólicos para evitar a consulta prévia.

As falas das militantes da Paraíba e do Ceará, como Neidinha Alves, evidenciaram que o problema é regional. Na PB, por exemplo, os “complexos problemáticos eólicos” têm impactado a produção de alimentos e destruído políticas públicas essenciais como as cisternas. “Nossas vidas não são renováveis”, afirmou Neidinha, ao denunciar os efeitos psíquicos da presença dos aerogeradores na Serra de Santa Luzia.

As intervenções das mulheres ampliaram o debate. Ana Aline, vereadora de Caicó, falou dos impactos em Bodó, como o adoecimento de animais e a inviabilização da criação doméstica. Já Ana Maria e Sâmara Rejane, agricultoras do assentamento Maurício de Oliveira, em Assú, relataram como as empresas se aproveitam da vulnerabilidade provocada pela seca para aliciar comunidades com propostas financeiras, desconsiderando os impactos ambientais e sociais.

A agrônoma Geovana apontou para a raiz do problema nos grandes leilões do Ministério de Minas e Energia, que abrem caminho para a chegada massiva das empresas sem regulamentação adequada. Lia Araújo, de Ponta Negra (Natal), destacou a necessidade de repensar o conceito de desenvolvimento e propôs o uso de ferramentas como a cartografia social e a exigência de licenças socioambientais.

Outras falas, como as de Toinha (Carnaubais), Ivone (Apodi) e Plúvia Oliveira (Mossoró), reforçaram a urgência da articulação entre movimentos sociais, da produção de legislação popular e da reparação pelos crimes ambientais cometidos pelas empresas.

A atividade, além de um espaço de denúncia, foi um momento de esperança. Como afirmou Tica Moreno no encerramento: “Esse é apenas o começo da nossa 6ª Ação. Seguiremos construindo juntas os caminhos para uma energia que esteja a serviço do bem viver, das mulheres e da soberania dos nossos povos.”

Seguiremos em marcha contra as guerras e o capitalismo! Defendemos a soberania dos povos e o bem viver!

Fotos: Camila Paula e Samya Alves – RN

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