No último dia 20 de julho, a Marcha Mundial das Mulheres realizou mais um momento de sua 4a ação internacional no Brasil. Com o eixo “ Pelo fim da violência contra as mulheres e por outro sistema político”, as atividades de formação e mobilização aconteceram de forma simultânea nas cidades de Recife, em Pernambuco, e João Pessoa, na Paraíba.
Pernambuco em marcha
Em Pernambuco, a IV Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres foi realizada no centro da cidade do Recife, ressignificando ruas e praças da cidade. Os locais onde cotidianamente as mulheres são expostas a todo tipo de violência machista, foram neste dia 20 de julho palco da irreverência e ousadia feminista.
Cerca de 100 mulheres se reuniram no parque 13 de maio e se dividiram em rodas de diálogo sobre o enfrentamento à violência contra a mulher e a luta pela transformação do sistema político. Foi um momento para conhecer melhor as lutas e experiências da participantes, de partilhar história, mas também de construir alternativas à opressão patriarcal.
Em Pernambuco, só no início de 2015, foram 132 mulheres mortas e ainda não foram contabilizados os casos ocorridos em junho e julho. Ao mesmo tempo, nenhuma resposta foi dada pela administração pública. Assim, as mulheres reafirmaram a necessidade e importância de sua auto-organização, da ocupação das ruas e os espaços de decisão para mudar a vida das mulheres.
Com o discurso, voz e batucada feminista afiados, as mulheres saíram às ruas da capital de Pernambuco até o Palácio do Governo, onde denunciaram a violência contra a mulher e a omissão do Estado. Além da irreverência e ousadia feministas, a solidariedade guiou este ato. Ao final do ato, as militantes acenderam velas e fixaram cruzes na frente do Palácio do Governo, reafirmando que por todas as mulheres vitimas da violência nem mais um minuto de silêncio, mas toda uma vida de luta pelo fim da violência e por outro sistema político.
Paraíba em marcha
Na Paraíba, cerca de 400 mulheres se reuniram em João Pessoa. Elas vieram do interior do estado, de cidades como Cajazeiras e Campina Grande.
Após a abertura da ação, com uma mística e uma ciranda feminista, as mulheres participaram de um espaço de formação política. Com uma mesa composta por integrantes da Marcha Mundial das Mulheres e de movimentos sociais parceiros, como o MST, a CUT e o coletivo de mulheres do campo e da cidade, o espaço de formação abordou o enfrentamento à violência e a resistência a ofensiva conservadora que ganha cada vez mais espaço no Estado brasileiro. As mulheres presentes deram visibilidade em suas falas à violência cotidiana que sofrem, mas também aos casos recentes que escancaram a misoginia vivida no dia a dia, como a violência física e sexual contra duas mulheres e um bebê, que resultou em um assassinato na cidade de Goiana, na divisa entre a Paraíba e Pernambuco.
Nesta ação, as mulheres reivindicam o direito a viver uma vida sem violência e o fim da impunidade dos agressores e assassinos. Na Carta elaborada nesta ação, as mulheres afirmam enfaticamente que estão em luta pelo direito mais básico que é o de permanecer vivas.
A diversidade política das mulheres presentes contribuiu para a articulação da luta pelo fim da violência com as transformações urgentes e necessárias na estrutura de terras, do poder e da política. Na manifestação pelas ruas de João Pessoa, as mulheres denunciaram a terceirização e precarização do trabalho, afirmaram a necessidade de transformar o atual sistema político, reivindicaram em frente ao Fórum de João Pessoa políticas públicas efetivas de enfrentamento a violência e a Reforma Agrária. Com esta ação, as mulheres conseguiram marcar uma audiência com o poder judiciário para a segunda semana de agosto, para tratar da agenda apresentada.