Mulheres se reúnem em Mosqueiro (PA) por alternativas feministas e populares para a justiça climática

14/10/2025 por

Nos dias 23 e 24 de agosto de 2025, mulheres do Pará e do Maranhão se encontraram em Mosqueiro, distrito de Belém (PA), para o Encontro Regional Amazônico da Marcha Mundial das Mulheres, com o tema “Alternativas feministas e populares para a justiça climática e o bem viver”. A atividade faz parte do calendário de ações da 6ª Ação Internacional da MMM.

O encontro reuniu mulheres quilombolas, ribeirinhas, catadoras, agricultoras, artesãs, estudantes e militantes urbanas em dois dias de debates, trocas de experiências e construção coletiva. As falas das participantes trouxeram a força das resistências nos territórios.

As mulheres do Maranhão denunciaram os impactos de grandes corporações como mineradoras e empresas do agronegócio como a Vale, Suzano e a Alumar, que pertence ao conglomerado Alcoa, sobre suas comunidades. Devido à ação dessas transnacionais nos territórios, as mulheres lidam com a expulsão de famílias, a contaminação das águas, do solo, a perseguição à lideranças e as tentativas de enfraquecer a organização comunitária e os seus modos de vida tradicionais.

As companheiras do Pará relataram situações semelhantes. Mulheres de Belém, Ananindeua e Santarém denunciaram a ação de empresas como Suzano, Hydro Alunorte e Cargill, que degradam rios e florestas, desrespeitam o direito das comunidades à consulta prévia, livre e informada e tentam mascarar os impactos de sua intervenção com falsas soluções vinculadas à “responsabilidade social”.

Debateram como as empresas tentam maquiar ações e cooptar as mulheres com “boas práticas”, mas continuam explorando a natureza e a vida das comunidades. É preciso valorizar as mulheres catadoras, quebradeiras de côco e agricultoras, reconhecendo seus saberes como alternativas reais para a transformação da sociedade. Os desastres ambientais, frequentes na região, são agravados pela ação das transnacionais e recaem especialmente sobre as mulheres no cuidado familiar e comunitário. O capitalismo global e o agronegócio ameaçam diretamente os territórios, a saúde e a vida das mulheres. Reafirmamos o bem viver, a agroecologia, a ancestralidade e a solidariedade como caminhos para a justiça climática.

Essas falsas soluções ofertadas pelo mercado são parte do que movimentos populares chamam de capitalismo verde. Durante a atividade, as mulheres afirmaram que o crédito de carbono e outros mecanismos da chamada economia verde são novas formas de grilagem e financeirização da natureza. Frente a isso, reafirmaram a agroecologia, a economia feminista e a solidariedade entre os povos como caminhos para a transformar a sociedade e a vida das mulheres.

Durante os dois dias, as participantes se organizaram em grupos de debate sobre economia feminista, financeirização da natureza, políticas de cuidado e agroecologia. No grupo de economia feminista, as mulheres refletiram sobre como os princípios da economia feminista podem apoiar o debate sobre o trabalho das mulheres e sua reorganização.

No debate sobre financeirização da natureza, denunciaram as falsas soluções para a crise climática e defenderam alternativas construídas pelas próprias comunidades, baseadas na agroecologia e na agricultura familiar. O grupo de Políticas de Cuidado refletiu sobre o avanço em políticas públicas, como a necessidade de políticas específicas para as mulheres atingidas por agrotóxicos, entre outras. O grupo de agroecologia reafirmou o papel central das mulheres na produção de alimentos saudáveis, propondo práticas de intercâmbio de saberes e fortalecimento da economia solidária.

O encontro foi encerrado com uma mística coletiva e a leitura da Carta Política do Encontro Regional Norte-Maranhão, construída de forma participativa. A carta denuncia o avanço do capitalismo racista e patriarcal na Amazônia e reafirma os caminhos do feminismo como base para uma verdadeira justiça climática, desvinculada das estratégias de lucro do mercado.

A carta traz como eixos centrais: a crítica à financeirização da natureza e às falsas soluções para a crise climática; a defesa da economia feminista, da agroecologia e das políticas públicas de cuidado; a denúncia ao turismo predatório e às tentativas de apagamento da memória ancestral.

Nós, da Marcha Mundial das Mulheres da Amazônia Brasileira, afirmamos que os avanços da Economia Verde impactam mais os territórios dos povos do campo, das águas e das florestas, mas esse é um tema que diz respeito também a quem está na cidade e atinge diretamente as periferias, reproduzindo o racismo ambiental através de uma política higienista como parte de uma engrenagem que é estrutural: a hegemonia do mercado financeiro em todos os níveis que visa, a todo custo, lucrar com a exploração da vida e do trabalho das mulheres, privatiza a riqueza, os patrimônios materiais e imateriais públicos e culturais, socializa a miséria, a repressão e a destruição ecológica do planeta. Isso aparece no poder que as corporações e os bancos têm sobre o Estado, na precarização do trabalho e das condições de vida – o que faz com que a carga de trabalho das mulheres aumente ainda mais – e na expansão capitalista através da economia verde.

As mulheres também reafirmaram seu compromisso de fortalecer a Cúpula dos Povos, que será realizada paralelamente à COP 30, e de seguir em mobilização rumo à Marcha das Mulheres Negras. Ambas as atividades, de caráter nacional, estão sendo preparadas ao longo do ano e ocorrerão em novembro de 2025.

Confira uma galeria de registros da atividade (Fotos: Diovana Alvez/ MMM Pará)

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