Nota da Marcha Mundial das Mulheres: No Rio, a pior operação é sempre a próxima
29/10/2025 por @admin
NO RIO, A PIOR OPERAÇÃO É SEMPRE A PRÓXIMA
Aterrorizar uma cidade inteira e contar corpos não é a resposta que precisamos. E o Rio de Janeiro sabe disso, porque há décadas que a política de operações policiais em territórios populares e favelas cresce e a violência também.
Ano após ano, o que essa política de segurança pública militarizada traz como resultado é o aumento do armamento na mão das facções, e mais populações vulneráveis sob controle de criminosos, extrapolando, inclusive, os limites da cidade e empurrando o crime organizado para outras partes da região metropolitana.
Enquanto isso, a decisão do governador Claudio Castro é montar operações policiais cada vez mais letais e menos eficientes. Vale lembrar que, até ontem, a maior apreensão de armamento da história do Rio de Janeiro havia acontecido em 2019, quando foram encontrados 117 fuzis em um imóvel ligado ao miliciano Ronie Lessa em um bairro de classe média na Zona Norte – e sem nenhum tiro disparado. E a operação mais bem sucedida de desarticulação das estruturas financeiras que permitem a existência das organizações criminosas foi realizada na Faria Lima, região central de São Paulo e a mais rica do país.
Já a operação de ontem, planejada para acontecer em dois complexos de favelas, a Penha e o Alemão, acabou envolvendo 16 horas de terror, 70 ônibus sequestrados, muitos feridos e mais de 100 mortos. Todo o aparato policial foi mobilizado para atender a operação contra uma só facção, deixando o conjunto da população desamparado em relação a ocorrências cotidianas. Tudo isso para apreender 118 fuzis.
Diante deste cenário, vale a pergunta: a quem serve este tipo de operação?
O dia mais letal da história do Rio de Janeiro não acabou com o crime organizado, que segue controlando 20% do território da cidade e sequer encontrou o chefe da facção, que segue foragido.
Trata-se de mais uma operação racista e midiática, que não ataca a raiz do problema, apenas escancara a orientação estatal pelo extermínio deliberado de jovens negros e pela violação sistemática de direitos da população mais pobre, ao transformarem pessoas moradoras de favelas em inimigos a serem combatidos. Tal operação se articula com um cenário internacional de ofensiva imperialista, que tenta imputar o estigma de narcoterrorismo às esquerdas da região.
A resposta da extrema-direita de forma articulada nas redes e mídias sociais reforçam a linha bolsonarista que pede intervenção estadunidense, entregando nossa soberania aos interesses capitalistas enquanto sacrifica corpos negros nas favelas.
Enquanto não mudarmos a lógica militarista das operações de segurança pública, as cidades continuarão reféns e o crime seguirá articulado.
Em meio aos incessantes disparos de arma de fogo por todos os lados, vimos mulheres saindo às ruas, usando seus corpos para pedir paz, que parasse o massacre de corpos pretos e pobres em seus territórios. No dia seguinte, quem vemos contando os corpos, limpando as ruas e vielas são as mulheres. Em busca de familiares, pais, amigos, irmãos, companheiros, as mulheres sobreviventes da chacina perpetrada pelo governo do estado do Rio de Janeiro terão que conviver com a dor, com o luto e com o trauma da violência em seus cotidianos pelo resto de suas vidas.
A militarização dos territórios populares, seja pelas facções do narcotráfico, seja pela milícia ou pela própria presença ostensiva da Polícia Militar não traz segurança para a população. É a garantia de direitos, de acesso à educação, aos bens comuns, ao emprego digno, à moradia digna que criarão as condições necessárias para a vida das pessoas que se constrói uma sociedade com justiça e sem violência, seja nas ruas, seja nas instituições.
Movidas pela solidariedade, seguiremos em luta contra o racismo e a violência do Estado!
Marcha Mundial das Mulheres
Rio de Janeiro, 29 de outubro de 2025