“Nós, da Marcha Mundial das Mulheres, celebramos a luta das mulheres e do movimento feminista em todo o mundo. Celebramos a força de todas aquelas que dedicam seus esforços para se libertarem do patriarcado, do neocolonialismo, do capitalismo e do racismo que são as causas que se encontram na raiz do sistema opressor em que vivemos.”
Declaração Internacional da Marcha Mundial das Mulheres
Desde o nascimento da Marcha Mundial das Mulheres como um movimento feminista internacional e anticapitalista, temos construído uma trajetória profundamente enraizada em lutas locais, denunciando e enfrentando o capitalismo patriarcal e racista que se estrutura na exploração do corpo, do trabalho e da sexualidade das mulheres.
Ao longo de 15 anos temos atuado cotidianamente ao lado de outros movimentos sociais na defesa radical das trabalhadoras e dos trabalhadores do Brasil e do mundo no mais profundo sentimento de solidariedade que sempre se expressou em ações concretas: seja com nossas irmãs em outros países como o Haiti, Iraque, Bagladesh, Honduras, Iraque, seja com as que lutam em tantos lugares do Brasil.
Nunca perdemos de vista a luta contra a violência sofrida pelas mulheres inclusive no campo, nunca abandonamos a luta pela legalização do aborto que pune e condena principalmente as mulheres negras e pobres do Brasil, menos ainda a nossa mais absoluta cumplicidade com as ações contra o agronegócio que semeia a morte com suas sementes transgênicas e venenos.
Mais uma vez, neste 8 de março de 2016, a Marcha Mundial das Mulheres fez um grande esforço para que se realizasse uma ação de luta feminista, comprometida com as transformações necessárias para mudar o mundo e a vida das mulheres. Essa foi nossa atuação desde o início e com essa convicção, fomos às ruas na Paulista por autonomia, liberdade e por uma democracia que permita lutar por igualdade
Este 8 de março aconteceu em uma conjuntura complexa, de acirramento dos ataques da direita aliada à imprensa golpista e ao poder judiciário contra a democracia no país, com a estratégia de aproveitar a crise para aprofundar a agenda de ajuste fiscal contra as mulheres e a classe trabalhadora. Sabemos que os ataques dirigidos hoje ao PT nas figuras de Lula e Dilma têm a intenção de destruir um processo de acúmulo histórico e atingir a todas organizações e pessoas de esquerda que há muito tempo resistem e lutam cotidianamente para transformar o Brasil em um país justo.
Sabemos que, na ausência da democracia, o que impera é o autoritarismo e a violência contra os setores marginalizados, contra aos organizações e os movimentos sociais. Conservadorismo rima com autoritarismo. Não é coincidência que os que hoje lideram o golpe são os mesmos que tem se empenhado contra os direitos das mulheres. Nas ruas, denunciamos o racismo, a misoginia e a lesbofobia; denunciamos a “lei anti-terror” e a orientação da atual política baseada no ajuste fiscal.
Em São Paulo, o 8 de março é o único momento de unidade de todas as mulheres feministas da classe trabalhadora. A responsabilidade de manter o ato cabia às mais de 80 organizações, movimentos, entidades e mulheres autônomas que o construíram. Infelizmente, a redução da complexidade do atual momento político à um conflito entre as chamadas “pró-governo” e “anti-governo” expressou uma incapacidade de diálogo e tolerância, e estimulou uma agressividade incompatível com a cultura política feminista que praticamos.
Repudiamos todo tipo de violência e afirmamos que o ato do Dia Internacional de Luta das Mulheres não pode ser espaço para agressões físicas ou morais. Repudiamos a desqualificação do feminismo tanto por movimentos quanto pela mídia manipuladora. Não aceitamos falsas denúncias que nos atrelam a qualquer agressão física, moral ou política que visam apenas o desgaste político de nosso movimento.
Coerentes com nossa história e nossa atuação ao longo dos últimos anos, participamos do ato com nossa batucada, nossas bandeiras, nossa irreverência feminista, nossas faixas e palavras de ordem, pautando a legalização do aborto, o fim da violência contra as mulheres, a luta contra o ajuste fiscal e as ameaças de retrocessos como a reforma de previdência.
Reafirmamos, portanto, nosso compromisso com uma cultura política feminista, baseada no diálogo e na construção conjunta, tendo a auto-organização como princípio fundamental de nossa luta.
Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!