Há muito tempo, o movimento feminista denuncia que a violência sexista se reproduz tão facilmente porque a sociedade capitalista, patriarcal e racista aceita, justifica e trata a violência contra as mulheres como uma violência menor, algo possível na convivência humana. Não à toa, os criminosos desta violência são muitas vezes tratados pela justiça de maneira mais complacente. Em 2008, o ex-médico Roger Adbelmassib foi denunciado por um estupro e, em seguida, se tornou pública uma enxurrada de outras denúncias de pacientes do ex-médico que eram estupradas durante o atendimento para a Reprodução Assistida. O estupro acontecia quando elas ainda estavam sedadas ou voltando da sedação.
Esse estuprador foi preso em 2009 e ficou 4 meses em detenção. O STF, na figura de Gilmar Mendes, concedeu um Habeas Corpus, alegando que este estuprador, que violentou 52 mulheres, não apresentava risco e nem disposição de fugir. Evidentemente, ele fugiu. Foi morar no Paraguai, onde vivia em meio a uma vida de luxo em um bairro rico.
Em 2010, foi condenado pela justiça de São Paulo a 278 anos de prisão, passou quase quatro anos foragido e, em 2014, foi recapturado graças à luta da associação das vitimas que atuou incessantemente pressionando a justiça para encontrá-lo. Hoje, o estuprador cumpre pena na Penitenciaria de Tremembé.
O caso volta à cena com a condenação da atriz Monica Iozzi, que comentou e criticou Gilmar Mendes por conceder o Habeas Corpus para Roger Abdelmassih após sua condenação.
O Ministro processou Monica Iozzi pedindo uma indenização de 100 mil reais por danos morais. A justiça do Distrito Federal a condenou a pagar trinta mil reais.
O crime pelo qual foi condenada: um post em rede social, com uma foto do ministro do STF e a legenda “Gilmar Mendes concedeu habeas corpus para Roger Abdelmassih, depois de sua condenação a 278 anos de prisão por 58 estupros” e escreveu: “Se um ministro do Supremo Tribunal Federal faz isso… Nem sei o que esperar”.
Monica expressou toda a indignação pela complacência e impunidade com que se tratam agressores de mulheres.
A indignação de Mônica expressa não só o sentimento das vítimas, mas o de todas as brasileiras que tomaram conhecimento do caso.
A Marcha Mundial das Mulheres vem a público expressar a nossa solidariedade a Monica Iozzi, bradando alto: basta de violência contra a mulher!
A justiça errou ao dar o Habeas Corpus ao estuprador, pois reforçou a ideia de que violentar mulheres “não dá em nada” no Brasil, desestimulando que outras vítimas desse e de outros casos se colocassem. Agora, a justiça erra quando condena uma pessoa que tem todo o direito de expressar sua indignação.
A violência contra mulher não é o mundo que a gente quer!
Seguiremos em Marcha até que todas sejamos livres!
Outubro de 2016