Hoje, 17 de Abril, a Marcha Mundial das Mulheres realiza uma mobilização de encerramento 4ª Ação Internacional em Tocantins e convoca a todas as militantes feministas para as atividades de Minas Gerais, que também iniciam hoje e vão até o dia 19. A 4ª ação foi lançada internacionalmente no 8 de março de 2015. No Brasil, diversas regiões do país realizarão ações descentralizadas até o 17 de outubro, encerrando em Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Mulheres jovens, indígenas e trabalhadoras da MMM e do MST dos estados de Tocantins, Pará e Distrito Federal protestam na tarde desta sexta-feira em frente à transnacional Bunge, no município de Porto Nacional.
A Bunge é uma empresa transnacional do agronegócio e alimentos, atua no mundo todo e, no Brasil, é a terceira maior exportadora e a primeira do agronegócio. É a dona das marcas Salada, Soya, Delícia, Primor, All Day e Cyclus, é a líder de vendas no setor de óleos de soja e margarinas e uma das principais no setor de maioneses.
As mulheres denunciam a Bunge pelo controle dos territórios na região Norte do país e pela imposição de um padrão alimentar baseado na exploração ilimitada da natureza e do trabalho das mulheres. Essa empresa transforma a comida em lucro e especulação financeira, veicula seus produtos a um tipo de propaganda midiática legitimando a divisão sexual do trabalho na qual as mulheres são vistas como únicas responsáveis pelo trabalho do cuidado e da alimentação da família.
As mulheres denunciam o desrespeito ao povo brasileiro pois enquanto garante soja livre de transgênicos na Europa, no Brasil tenta driblar a legislação ocultando a existência da utilização de soja transgênica em seus produtos. Além disso, a Bunge tem sido uma grande cúmplice do avanço da fronteira da soja no país, colaborando na destruição de áreas de floresta amazônica e cerrado.
A denúncia da Bunge é parte da crítica global ao modelo do agronegócio, da destruição da natureza, do ataque aos direitos dos povos e comunidades.
O modelo de produção de soja tem levado os camponeses e as camponesas a perderem suas terras para os grandes produtores através de ações violentas. Na disputa dos territórios, os povos do campo perdem seus sonhos, suas terras e seu jeito de plantar. Empresas transnacionais como a Bunge expropriam as mulheres dos seus locais de vivência e roubam seu cotidiano. Sem alternativa, esses homens e mulheres vão para as periferias das cidades, situação que muito contribui para a violência urbana e a prostituição.
Denunciamos a instituição da prostituição que é parte deste modelo de desenvolvimento e submete meninas e mulheres à exploração sexual na beira das estradas do Tocantins. As mulheres estão em luta pela autonomia sobre seus corpos, pelo direito de viver sua sexualidade livre de controles e imposições, e pelo fim de todas as formas de violência.
Assim como acreditamos que nossos corpos são nossos territórios, o local onde vivemos também nos pertence porque é onde produzimos e nos desenvolvemos. Os numerosos e graves conflitos existentes na disputa pela terra e territórios tendem a se agravar. As comunidades cercadas pela soja e pela cana no Piauí e em Tocantins estão lutando para garantir sua soberania alimentar e sua permanência em seus territórios.
Diante desses fatos, a Marcha Mundial das Mulheres denuncia essa empresa e declara que a Bunge é inimiga do povo brasileiro, da natureza e das mulheres.
As mulheres afirmam no Tocantins a defesa de seus territórios frente ao avanço da mineração nas serras, das grandes obras hidroelétricas em seus rios, do agronegócio da soja.
Auto-organizadas, afirmamos a construção de um feminismo anticapitalista e anti-racista. Afirmamos a igualdade, a soberania alimentar e a agroecologia como estratégias para transformar o atual modelo de produção, reprodução e consumo. Estamos em luta por um novo paradigma de sustentabilidade da vida, com igualdade entre mulheres e homens, e uma relação harmoniosa com a natureza.
Estamos em marcha até que todas sejamos livres!