Por um Brasil com economia solidária feminista! A participação da Marcha Mundial das Mulheres na 4ª Conferência Nacional da Economia Solidária
25/08/2025 por @admin

Entre os dias 13 a 16 de agosto a Marcha Mundial das Mulheres (MMM) esteve presente na 4ª Conferência Nacional da Economia Solidária (CONAES) que aconteceu em Brasília – DF. Um marco importante no campo da da economia solidária, a última conferência nacional aconteceu em 2014, há 11 anos.
Após o golpe da presidenta Dilma, nos governos Temer e Bolsonaro, tanto a Secretaria Nacional de Economia Solidária como o Conselho Nacional de Economia Solidária passaram por desmonte e esvaziamento, bem como outras instâncias de esferas estaduais e municipais.
Cerca de 15 mulheres da MMM participaram da conferência como delegadas, articuladas princialmente em torno da Rede de Economia Solidária e Feminista (RESF), articulação que quase todas as associadas são marchantes. Somado às companheiras da AMESOL (Associação de Mulheres na Economia Solidária, de SP) e da RAMA (Rede Agroecológica de Mulheres Agricultoras da Barra do Turvo), 20 marchantes dos seguintes estados estiveram presentes: Amapá (AP), Ceará (CE), Distrito Federal (DF), Goiás (GO), Pará (PA), Pernambuco (PE), Rio de Janeiro (RJ), Rio Grande do Norte (RN), Rio Grande do Sul (RS), Santa Catarina (SC) e São Paulo (SP).
As militantes estiveram na construção das etapas preparatórias da conferência nacional (conferências municipais, regionais, estaduais e temáticas livres), quanto na organização da Conferência Nacional. No contexto nacional, estivemos presentes na relatoria dos momentos e no espaços de elaboração, como as plenárias de discussão das diretrizes e prioridades para o 2º Plano Nacional da Economia Solidária e os Sujeitos da Política Pública de Economia Solidária.
A companheira Drika Cordonet, do Rio Grande do Sul, compartilha seu relato sobre a participação da MMM na 4ª CONAES
Em todos os espaços para debate e inscrições nós da MMM pautamos a importância do olhar para a Economia Feminista qualificando a Economia Solidária, enquanto estratégia de superação das desigualdades. Tendo em vista a vida e o trabalho de cuidados no centro do debate na construção coletiva, cooperada e de estratégias para acessos e proteção dos bens comuns, responsabilidade socioambiental, aliada com a inclusão nos espaços decisórios e equitativos, para garantia e ampliação de direitos.
Sobretudo para as populações vulnerabilizadas e marginalizadas, como as mulheres, negras e negros, lésbicas, bissexuais e transexuais, indígenas, quilombolas, dos campos, florestas e águas e juventudes. Os retrocessos ocorreram, vimos a própria Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) perdendo protagonismo estratégico até sua extinção, no período pós golpe do governo da presidenta Dilma e no governo Bolsonaro (2016-2022).
Contudo, a resistência coletiva e democrática da ECOSOL (Economia Solidária), pautou o programa e a reconstrução no governo Lula, revivendo a Secretaria com Gilberto Carvalho à frente da pasta, e incidindo na cobrança pela transversalidade de ações e projetos com demais ministérios, tendo esta correlação de fortalecimento absorvida pelo Ministério das Mulheres, em seus diversos editais de projetos.
Assim como a aprovação do Projeto de Lei nº 15.068/2024, que institui a Política Nacional de Economia Solidária (PNES) e o Sistema Nacional de Economia Solidária (Sinaes), que deve ser regulamentada efetivamente, dia 15 de Dezembro (Dia da ECOSOL), nos colocando na posição de ente econômico, e nos dando subsídios de lutar para mudanças nas legislações que vulnerabilizam diversos segmentos da ECOSOL, sobretudo os liderados por mulheres.
Temos como desafios a organização, formação e criação de projetos que auxiliem os mapeamentos, sistematizações e organização das mulheres e sujeitos da ECOSOL e dos movimentos populares. O Secretário Nacional, Gilberto Carvalho, e o Presidente Lula sinalizaram um horizonte em que a organização coletiva será crucial para ampliarmos e consolidarmos a Economia Feminista nas prioridades da agenda de formulação de Políticas Públicas transversais.
Diante disso, temos que ter como foco e orientação militante a consolidação das mulheres, que constroem o feminismo popular, como parte efetiva e de destaque na elaboração e implementação destas políticas nos territórios. Para isso, nos cabe seguir estreitando laços com iniciativas parceiras, para a construção mais qualificada desta outra ótica das relações de trabalho, autogestionário, cooperado, solidário, horizontal, de respeito e cuidado com a vida, com os territórios, com as culturas e a diversidade da nossa gente, e pela autonomia dos nossos corpos, na busca pelo bem viver.
Há avaliação de que a conferência proporcionou muito acúmulo e diálogo político, tanto com as delegações, dos mais diversos territórios e estados, quanto com representantes em pastas estratégicas do governo para ampliação da Economia Feminista nas ações da Sinaes e seus diálogos intraministeriais.
Outro ponto importante desta conferência foi a energia das juventudes, das mulheres e das LGBTs, mesmo que, por vezes, lidando com momentos de atrito para a desconstrução de preconceitos enraizados e oriundos de uma sociedade heteronormativa, patriarcal, racista. Como todo e qualquer movimento e espaço coletivo, nestes momentos as contradições também são oportunidades para reflexão e transformações, e neste sentido ficam também os desafios do movimento de economia solidária para lidar com as questões que perpassam as questões de gênero, sexualidades, racismos e sexismo, e também um olhar mais atento às contribuições diversas das juventudes nas práticas e reflexões do movimento de ECOSOL.
Nosso grupo da MMM esteve atento e presente para apontar, dialogar e contribuir com encaminhamentos para diretrizes futuras, nos espaços de convivência, debate e confraternização. A fim de que sejamos, de fato, justas, solidárias e inclusivas com todas os corpos políticos, ativos e construtores desse novo mundo possível, e de uma nova economia que já acontece!
VIVA A ECONOMIA SOLIDÁRIA FEMINISTA!
Abaixo compartilhamos cinco, das dez, propostas selecionadas pelo movimento da Economia Feminista foram aprovadas.
Porém, é importante ressaltar que está não é a redação final das propostas aprovadas.Elas passarão por edição e sistematização por parte da comissão organizadora da Conferência e do Conselho Nacional de ECOSOL.
O destaque de maior mobilização foi para a proposta 131 do Eixo “Educação, Formação e Assessoramento Técnico” (Economia Feminista/Cuidado):
131. Criar uma Escola Nacional de Economia Solidária e Feminista que ofereça formação contínua, assessoramento técnico e auxílio financeiro para mulheres vulneráveis e populações prioritárias. Desenvolver programas e materiais formativos que valorizem saberes locais e regionais, promovendo a autogestão e o fortalecimento sustentável dos empreendimentos solidários em todo o país.
Outras propostas aprovadas:
3.2 EIXO II – Financiamento: Crédito e Finanças Solidárias – (LGBTs/Mulheres)
56. Criar fundos públicos e comunitários específicos para os Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) de Cultura, com acesso facilitado especialmente para mulheres, juventudes negras e pessoas LGBTQIAPN+. Implementar linhas de microcrédito com juros baixos, gestão coletiva e capacitação financeira, fortalecendo a autonomia dos empreendimentos. Incentivar o desenvolvimento de bancos comunitários e moedas sociais como soluções territoriais sustentáveis.
Potencializar essas iniciativas por meio do fomento direcionado à formulação e criação de moedas sociais, incluindo a destinação de parte dos recursos dos editais de cultura para pagamento em moedas sociais, onde houver essa infraestrutura financeira local.
3.3 EIXO III – Educação, Formação e Assessoramento Técnico (Economia Feminista/Cuidado)
84.Oferecer acesso à educação e formação em tecnologias e plataformas digitais por meio de ciclos formativos, residências e ações de letramento digital que integrem os princípios da autogestão, do cooperativismo e da economia solidária, com foco na justiça territorial, cuidado coletivo e governança democrática, valorizando os saberes dos territórios populares e utilizando uma linguagem acessível e popular para facilitar a apropriação dos conceitos e práticas pelas comunidades.
102. Apoiar e fomentar programas e projetos de pesquisa que abordem as interconexões entre cultura, economia solidária e as diversas realidades socioambientais, políticas e econômicas, analisando seus impactos na vida de indivíduos, nos Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) da cultura e na sociedade. Considerar, de forma interseccional, os reflexos dessas dinâmicas na vida de mulheres, jovens, populações negras, LGBTQIAPN+, periféricas e comunidades tradicionais, bem como a relação entre inclusão social e economia solidária
120. Criar uma rede nacional de assessoria técnica gratuita e continuada para os Empreendimentos de Economia Solidária, com suporte jurídico, administrativo e de inovação, articulada a processos formativos baseados na educação popular. A iniciativa deve assegurar o acesso da juventude, das mulheres e dos diversos sujeitos da ECOSOL às formações, redes e informações, promovendo o enraizamento socioterritorial e o fortalecimento da economia solidária e feminista nos territórios.
Confira alguns registros da Conferência feitos pelas marchante da delegação da MMM:








