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Seminários temáticos discutem eixos para a Ação Internacional da MMM de 2025

Crédito da foto: Aline Teodoro

Por Coletivo de Comunicadoras

Na tarde deste domingo (7), as participantes do 3º Encontro Nacional da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) compartilharam sínteses de discussões promovidas durante a manhã do evento. Os debates foram realizados por cinco grupos que dialogaram sobre os eixos temáticos da 6ª Ação Internacional do movimento, que será realizada em 2025, “Seguiremos em Marcha contra as guerras e o capital, por soberanias populares e bem viver”. O momento foi coordenado por Tica Moreno (MMM SP) e Mariana Lacerda (MMM CE). Confira aqui a lista dos seminários e suas respectivas sínteses:

Seminário 1

O Seminário 1, com o tema “Defender os bens comuns contra as corporações transnacionais: justiça climática, luta contra a mineração e impactos da energia eólica e solar”,  contou com relatos de enfrentamento à ofensiva da Braskem, uma empresa transnacional que deixou uma mina de sal gema se romper em Maceió (AL), destruindo um bairro inteiro e colocando em risco a estrutura da cidade. Essa tragédia-crime é  tida como o maior crime ambiental ocorrido em solo urbano no país. Também falou-se de como as instalações de complexos eólicos e solares têm ameaçado a permanência e a vida no Rio Grande do Norte (RN). As militantes conversaram ainda sobre a exploração da mineração, cujos resultados desastrosos levaram aos rompimentos de barragens em Mariana (MG) e Brumadinho (MG).  Uma companheira do movimento Amigos e Amigas da Terra compartilhou também experiências de construção de alternativas populares no Rio Grande do Sul (RS), onde as mulheres mantém uma horta comunitária e cozinhas solidárias. No mesmo sentido, uma integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) dividiu com todas um pouco do acúmulo do movimento sobre o modelo energético que há no Brasil, que é predatório, e quais são as alternativas populares a ele. Durante toda a conversa, a agroecologia foi apontada como prática feminista de resistência à destruição das terras, saberes e modos de vida populares.

A partir dos relatos do Seminário 1, foi possível perceber que as transnacionais, a expropriação dos bens comuns e a exploração do trabalho andam de mãos dadas em todos os territórios, gerando violências às mulheres, aumento de pobreza e da vulnerabilidade social. Na discussão, as militantres apontaram algumas ações possíveis para fazer frente a esses fenômenos, como o fortalecimento da auto-organização, da agroecologia e da defesa dos corpos e territórios das mulheres, construindo a economia feminista que a Marcha Mundial das Mulheres defende.

Seminário 2 

A discussão do Seminário 2, “Enfrentamento à violência contra as mulheres, o racismo e a luta por paz e desmilitarização”, partiu da discussão sobre qual a política de segurança que as mulheres querem para o país. As feministas criticaram a lógica das forças militares, que primam pelo punitivismo seletivo. “Isso não é o que as mulheres querem”, defenderam todas. “A segurança que as mulheres querem não é da arma nem a da presença policial, mas a de andar pelas ruas sem medo”, completaram. O alto índice de encarceramento do povo pobre e preto também esteve em pauta no debate, que falou ainda sobre como as mulheres são sujeitos políticos que resistem permanentemente e organizam resistências a esse sistema predatório, desigual e explorador.

Por fim, a discussão defendeu a importância de pensar nos territórios das periferias como espaços positivos de organização e resistência e afirmou que não existe discussão de segurança pública sem as mulheres. 

Seminário 3

No Seminário 3 – “Economia feminista baseada na sustentabilidade da vida e soberania alimentar: luta pela terra e território, agroecologia, agricultura urbana e cozinhas coletivas e a relação com a economia solidária” – foi abordada a disputa que o capital tem feito nos territórios de todos os cantos do país. Disputa que carrega consigo muita militarização, violência e criminalização das lutas populares, tudo para retirar o direito à terra e ao território das mulheres e da classe trabalhadora. No mesmo sentido, visto que o cenário no campo é parecido com o urbano, as mulheres defenderam que é preciso fazer a reforma agrária popular, com produção baseada na agroecologia, para enfrentar a espoliação de seus territórios, corpos, trabalhos e modos de vida. 

As feministas destacaram que as mulheres são construtoras de alternativas concretas ao capitalismo racista e patriarcal. Nesse sentido, Ivi Aliana, do Centro Feminista 8 de Março (CF8), compartilhou o importante exemplo das tecnologias sociais de convivência com o semiárido, que vêm dos saberes das mulheres, que são as pessoas que se preocupam de ter o balde de água pra pegar água da bica, enquanto o capital só quer os solos, ventos e conhecimento do semiárido. A militante afirmou que o desafio é fortalecer a resistência e valorizar toda a sustentabilidade da vida que as mulheres constroem em seus territórios.

Outras experiências também foram apresentadas: Any Moraes, do RS, socializou informações sobre uma horta comunitária das mulheres dos movimentos que, durante as enchentes, se transformou em uma cozinha solidária e ampliou a ação dos grupos. Neneide Lima, da Rede Xique Xique, do RN, falou da auto-organização das mulheres na economia solidária e do quanto a economia feminista qualifica as práticas da economia solidária. “Sem economia feminista, não tem economia solidária com base na sustentabilidade da vida”, concordaram as participantes. Da mesma forma, pontuaram que a agroecologia não é só produzir sem agrotóxico e que sem feminismo não há agroecologia. 
Em síntese, as mulheres afirmaram que o capital está articulado, mas as mulheres também estão construindo a resistência coletiva numa articulação campo-cidade.

Seminário 4

A companheira Elaine Bezerra, de Minas Gerais (MG), apresentou a síntese do Seminário 4: “Economia feminista baseada na sustentabilidade da vida: mundo do trabalho e alternativas para autonomia das mulheres”. O grupo discutiu a questão da economia feminista e do mundo do trabalho. Um primeiro elemento foi a afirmação de que a economia feminista é importante para compreender a realidade e também para desconstruir a ideologia da economia clássica. “A economia organiza a vida, mas isso está organizado por elementos que não os nossos”, afirmaram as mulheres.

Debateu-se que a invisibilização do trabalho doméstico na economia capitalista é uma constante e por isso as feministas reafirmam o conceito de divisão sexual do trabalho, que separa e hierarquiza os trabalhos. No mesmo sentido, há uma divisão racial do trabalho que organiza todos eles. O feminismo que a MMM constrói quer romper com essas divisões. Falou-se também que, em todo o mundo, a experiência cotidiana do trabalho é desigual e os números do mercado de trabalho mostram isso, tanto no meio formal quanto informal. 

A defesa de que é necessário enfatizar a responsabilidade do Estado no debate sobre a socialização dos trabalhos de cuidado permeou toda a discussão. Compras públicas, creches, igualdade salarial e redução da jornada de trabalho sem redução da remuneração são medidas que podem ser adotadas pelo poder público para isso.

Seminário 5

Por fim, a companheira Marilei (MMM SC) apresentou a síntese do Seminário 5: “Autonomia sobre nossos corpos e sexualidade: Legalização do aborto, luta contra a mercantilização da vida das mulheres e autonomia dos corpos e sexualidade”. A discussão pontuou que a ordem racista e patriarcal se impõe sobre os corpos das mulheres e que é preciso aprender com as mulheres indígenas e quilombolas a compreender o corpo como território.

Uma crítica levantada foi ao papel da ciência e da indústria farmacêutica na sociedade, pois as corporações multinacionais medicam e mercantilizam as mulheres e as pessoas negras. Diante disso, a formulação proposta é de que a mercantilização dos corpos e territórios é uma exigência cada vez maior do mercado, que se apoia na medicalização, entre outras violências, para tornar as pessoas funcionais ao sistema. 

As feministas avaliaram que o modelo racista e patriarcal da sociedade é estruturante e captura as agendas dos movimentos de uma forma recortada e minimizada para confundir as lutadoras, apresentando ideias que sugerem que o capitalismo está preocupado com a vida das mulheres. Esse mercado pinçou elementos da agenda feminista e os vende como demandas das mulheres, mas ocultou as bases da opressão e da exploração. Nessa ofensiva, a publicidade possui um papel importante, pois vende um padrão de beleza magro, branco e jovem, com impactos visíveis sobre crianças e adolescentes, e o coloca como “empoderador”. Nesse sentido, defende-se a necessidade de enfrentar o feminismo liberal que coloca os corpos das mulheres a serviço do mercado.

A legalização do aborto também foi discutida nesse seminário. A MMM defende a legalização do aborto como política de defesa da vida de todas as mulheres e aponta que embora todas sofram com sua criminalização, sobre sobretudo as mulheres negras, pobres e do campo que morrem e são estigmatizadas.

A memória de Nalu Faria, como inspiração de afeto, disciplina e radicalidade que a Marcha Mundial das Mulheres precisa ter, se fez presente em todos os seminários. Com ela, o movimento aprendeu muito sobre isso. Nalu Faria Presente, hoje e sempre!

Após a socialização de todos esses debates, reforçou-se a importância do fortalecimento das discussões feministas coletivas para a construção da 6ª Ação Internacional da Marcha, que será realizada no ano de 2025.

O 3º Encontro Nacional “Nalu Faria” continua nesta segunda-feira (8) e termina na terça-feira (9). Confira a programação completa AQUI e acompanhe a cobertura do evento pela página e redes sociais do movimento!

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